quarta-feira, junho 29, 2011

EICEL. Programa de Acção 2011 - 2014 (parte 12)

(continuação do nº1184 de 17 de Junho de 2011, pág.7)

Dinamização:

O cumprimento da missão cultural e educativa do Centro dependerá da sua capacidade de produzir uma resposta às expectativas dos diferentes públicos-alvo, estabelecendo sinergias com a sociedade, em particular com a comunidade educativa regional e com a comunidade científica nacional e internacional.

Impõe-se a criação de um serviço educativo e de animação cultural dotado dos meios necessários ao desenvolvimento de uma programação dinâmica, prevendo ciclos de exposições temporárias nos quais se aprofundem aspectos específicos da exposição permanente e se alargue o espectro de divulgação a diferentes áreas de conhecimento, assim como a promoção de acções de formação e de debate científico, na procura da diversificação de públicos e do desenvolvimento de uma indispensável interacção com instituições museológicas congéneres.

Com efeito, a divulgação dos resultados do projecto e dos trabalhos de investigação a desenvolver sobre os recursos documentais, o património móvel em reserva e o património imóvel a cargo do Centro, deverá ser promovida através da criação de diferentes momentos de intercâmbio cultural e científico, reunindo em conferências periódicas e num evento científico anual não apenas os diferentes parceiros, mas principalmente os riomaiorenses, outras comunidades mineiras, e a comunidade de investigadores nas áreas da história e do património.

O Centro de Interpretação deverá ainda ser um espaço aberto à produção cultural nos diferentes ramos de expressão artística, procurando parcerias para o desenvolvimento de eventos de arte centrados na temática específica do património mineiro e industrial, entre os quais se antevê a possibilidade de criação de um ciclo dedicado às artes audiovisuais bem como a promoção de concursos e exposições de fotografia.

A criação de um serviço educativo e de animação cultural terá como principais objectivos:

1 – A revitalização cultural da comunidade riomaiorense, promovendo uma intensa presença do Centro na vida local enquanto pólo irradiador de conhecimento e produção artística e apelando simultaneamente à participação activa dos cidadãos no processo de consolidação e crescimento do futuro Parque Geomineiro do Espadanal.

2 – A afirmação de Rio Maior em redes nacionais e internacionais de cidades mineiras assente na criação de um destino com potencial de atracção no sector do turismo cultural.

3 – O desenvolvimento de um espaço alargado de debate científico através da criação de Encontro Internacional dedicado ao Património Geológico e Mineiro.

Divulgação:

A produção científica do Centro de Interpretação deverá ser objecto de uma política editorial que contribua para a colmatação de uma sensível ausência de publicações dedicadas à história e ao património do concelho de Rio Maior e permita alargar a bibliografia de referência sobre o património mineiro em Portugal. A continuação da investigação sobre o Couto Mineiro do Espadanal permitirá, a curto prazo, a publicação de uma monografia histórica e de álbum fotográfico, a que poderão seguir-se diversas brochuras dedicadas a temas específicos.

Na procura de uma estratégia de comunicação eficaz e apelativa, a internet constitui um veículo privilegiado para a divulgação pública e alargada da actividade do Centro. Procurar-se-á assim promover a criação de um “Centro de Interpretação Digital” que, sem se substituir a uma visita às exposições, permita a criação de um espaço próprio e interactivo de divulgação de conteúdos produzindo uma apelativa imagem de marca.

O projecto deverá ainda promover uma adequada estratégia de marketing explorando a grande qualidade gráfica do espólio existente e a potencialidade de criação de produtos culturais assentes na riqueza historiográfica das minas e do concelho de Rio Maior, desde filmes e documentários históricos e biográficos, a séries de ficção.

A criação de produtos de divulgação não ficaria completa sem a oferta de uma memorabilia das minas, a vender na loja do Centro, e que poderá compreender os mais diversos tipos de objectos, desde as colecções de postais aos posters e aos álbuns com fotografias históricas e reprodução de peças desenhadas, passando pelas miniaturas de edifícios, máquinas e ferramentas.



Dinamização. A missão cultural e educativa do projectado Centro de Interpretação teve, na recente realização da III Jornada do Património Mineiro do Concelho de Rio Maior, um exemplo concreto das potencialidades de interacção com a comunidade escolar num contexto de valorização do património histórico.
















Continua no próximo número do Região de Rio Maior.

In Região de Rio Maior nº1185, de 24 de Junho de 2011

REGENERAÇÃO URBANA DE RIO MAIOR. PRAÇA DO COMÉRCIO.

EICEL SOLICITA ESCLARECIMENTOS À CÂMARA MUNICIPAL SOBRE DEMOLIÇÃO DE EDIFÍCIOS CENTENÁRIOS.





Figura 1 - Perspectiva da Praça do Comércio. Fotografia dos anos 30-40. Colecção António Machado Feliciano Júnior.

Prosseguindo um objectivo de investimento na regeneração da zona antiga da cidade de Rio Maior, a Câmara Municipal deliberou oportunamente a relocalização da futura Loja do Cidadão de Segunda Geração em edifícios centenários situados na Praça do Comércio – decisão na qual a direcção da EICEL se revê pelo potencial de revitalização de uma área urbana que vinha progressivamente perdendo residentes e actividade comercial.

No seguimento da proposta de relocalização, a comunidade riomaiorense teve oportunidade de registar declarações do executivo ao jornal Região de Rio Maior e em reunião ordinária da Câmara Municipal denotando consciência da sensiblidade da intervenção a realizar pela presença de valores de história e imagem urbana, e assegurando a intenção de preservação das fachadas existentes.

Prevendo-se a necessidade de demolições pontuais de elementos degradados nos edifícios em questão foi com surpresa que os riomaiorenses puderam constatar recentemente a sua demolição integral sem qualquer discussão pública conhecida.

Desapareceu assim a Casa Regallo, na qual se instalou durante as décadas iniciais do século XX a “Loja do Povo” de António Custódio dos Santos, Presidente da Câmara Municipal após a implantação da República e impulsionador da indústria mineira riomaiorense (figura 2).





















Figura 2 – Fotografia da Casa Regallo, na Praça do Comércio, em cujo piso térreo António Custódio dos Santos geria a sua “Loja do Povo”. Década de 1900-1910. Fotografia de Arquivo Região de Rio Maior.

Lamentando a perda irrecuperável do valor patrimonial do quarteirão intervencionado, a EICEL solicitou, em carta enviada no dia 15 de Junho à Câmara Municipal de Rio Maior um conjunto de esclarecimentos, de entre os quais importam particularmente para o futuro imediato as seguintes questões:

1 – Prevê o projecto aprovado pela Câmara Municipal de Rio Maior a reconstrução das fachadas demolidas, conservando a imagem urbana da Praça do Comércio?

2 – No contexto da Área de Reabilitação Urbana oportunamente delimitada, qual o enquadramento conceptual defendido pela Câmara Municipal de Rio Maior para as futuras intervenções em edificado existente: Conservação ou transformação da imagem urbana sedimentada e secular?

Na passada quinta-feira, dia 16 de Junho, teve lugar no auditório dos Paços do Concelho sessão de esclarecimento sobre a Regeneração Urbana de Rio Maior, no âmbito da qual a EICEL teve oportunidade de verificar a existência de projecto para o local com solução volumétrica e estética diversa das preexistências, registando, no entanto, a declaração de inteira disponibilidade, pelo Sr. Vice-Presidente da Câmara Municipal, Dr. Carlos Frazão, para reavaliação do processo no que respeita à possibilidade de reconstrução das fachadas segundo desenho original.

A intervenção na cidade estende as suas consequências para além de um simples plano técnico ou funcional, a um quadro de valores de memória e Identidade. Citando o reputado urbanista norte americano Kevin Lynch não podemos deixar de considerar que “a paisagem desempenha também, um papel social”. Coloca-se assim aos riomaiorenses uma interrogação decisiva: Importa conservar o núcleo urbano consolidado que permite ainda a identificação e o sentimento de pertença dos cidadãos de hoje a uma secular evolução histórica da nossa comunidade?

A UNESCO, na sua “Recomendação sobre a Salvaguarda e o Papel Contemporâneo das Áreas Históricas”, aprovada em Nairóbi, no ano de 1976, sublinha que “todas as áreas históricas e a sua envolvente devem ser consideradas na sua totalidade, como um todo coerente, cujo equilíbrio e natureza específica dependem da fusão das partes das quais é composta”. Entende-se que “todos os elementos válidos, ainda que modestos, têm um significado em relação ao todo que não pode ser esquecido”. A zona antiga da cidade de Rio Maior não pode assim ser entendida como uma soma de edifícios (na qual alguns, avaliados isoladamente, poderão não ter relevante qualidade arquitectónica), mas como um conjunto coerente, consolidado numa evolução secular.

Rio Maior possui um escasso número de espaços públicos com uma imagem urbana claramente identificável. A Praça do Comércio e a Casa Regallo marcam seguramente essa curta lista. De tal forma que a Câmara Municipal de Rio Maior, quando em anos recentes elaborou um Roteiro da Cidade, não por acaso, elegeu como imagem de capa o gradeamento em ferro forjado da varanda da Casa Regallo (figura 3).

A Praça do Comércio constitui talvez o mais qualificado espaço público da nossa cidade, pela escala e coerência do seu entorno edificado. Uma escala e coerência mantida pela implementação de uma regra não escrita nos instrumentos de ordenamento do território em vigor, mas sempre seguida em intervenções anteriores, desde a reconstrução do edifício da Farmácia Barbosa, na década de oitenta, ao mais recente exemplo das Galerias da Praça do Comércio: a manutenção do desenho original da fachada dos edifícios intervencionados.

Consideramos que a eventual quebra desta regra, com uma substituição integral dos edifícios demolidos que altere os alçados da Praça do Comércio e ruas adjacentes, constituiria um grave precedente com consequências na perda de legitimidade do Município para de futuro se opor a quaiquer propostas de demolição e substituição do edificado, por parte de proprietários privados, na zona antiga da cidade. Em suma: permitir-se-ía a indesejável transição de um critério de conservação da imagem urbana para a abertura da possibilidade da sua transformação.

A EICEL apresentou à Câmara Municipal de Rio Maior a inteira disponibilidade para a colaboração na procura de uma solução que, embora lamentavelmente não desfaça a perda irrecuperável do património demolido, possa permitir um compromisso entre a necessidade de instalação de novas funções e a conservação da paisagem urbana histórica da cidade de Rio Maior.























Figura 3 – Capa do Roteiro da Cidade publicado pela Câmara Municipal de Rio Maior.

A Direcção da EICEL.

In Região de Rio Maior nº1185, de 24 de Junho de 2011

sexta-feira, junho 24, 2011

EICEL. Programa de Acção 2011 - 2014 (parte 11)

(continuação do nº1183 de 10 de Junho de 2011, pág. 7)





















Festa em honra de Santa Bárbara no ano de 1956. Partida da Procissão junto aos escritórios da EICEL no Espadanal.

4 – Comunidade Mineira:

O Centro de Interpretação terá como principais destinatários os riomaiorenses. O período mineiro introduziu importantes alterações no tecido social da vila de Rio Maior. A cidade actual, herdeira desse período, tem impressas nas suas ruas e na memória dos seus habitantes as marcas da transformação operada pelo trabalho e pelo modo de vida da antiga comunidade mineira.

A redescoberta dessa comunidade deverá constituir um dos objectivos mais prementes do projecto a implementar, sabendo-se que o avanço inexorável do tempo limitará progressivamente a possibilidade do registo de vivências na primeira pessoa. Importa registar a memória das condições de trabalho na antiga exploração mineira, descrevendo-se as diversas funções exercidas na organização social da empresa e os saberes técnicos associados.

A evolução dos diferentes esforços da comunidade na assistência social à família mineira, bem como a caracterização das condições de habitação, descrevendo-se o seu impacto na evolução urbana de Rio Maior deverão ser objecto de adequada apresentação, com recurso a depoimentos filmados, a modelos à escala, ou representações gráficas das habitações mineiras.

Recuperar-se-ão os registos da produção cultural da época e produzir-se-á, pela primeira vez, um espaço de memória dedicado ao antigo clube de futebol “Os Mineiros”. Propõe-se ainda a recuperação das festividades religiosas de Santa Bárbara com organização participada pelo Centro e pela comunidade local.

Investigação:

Será incumbência do Centro a recolha, o estudo científico, a conservação in situ (38) e restauro do conjunto de documentação e bens móveis da antiga exploração mineira, bem como o estudo e implementação de medidas de conservação e restauro do seu património imóvel.

A continuação do trabalho de investigação histórica e levantamento do património, necessariamente alargado a diferentes áreas disciplinares, permitirá a constituição de um acervo documental, bibliográfico e de património móvel dedicado à actividade mineira no concelho de Rio Maior, à história e património regional, bem como, genericamente, à história e ao património mineiro e industrial.

Tarefa fundamental para o cumprimento da missão a que o projecto se propõe, a constituição deste acervo, adequadamente reunido e tratado em arquivo e serviço de reservas, terá os seguintes objectivos:

1 – A conservação e restauro do património do antigo Couto Mineiro do Espadanal, permitindo a salvaguarda da memória pela preservação dos seus testemunhos materiais e a reconstituição da história da mina, da comunidade mineira e do concelho de Rio Maior, com base em documentação original.

2 - O aprofundamento da investigação sobre a realidade patrimonial existente, informando a evolução do projecto de instalação do futuro Parque Geomineiro do Espadanal.

3 – O desenvolvimento de um adequado suporte material à produção de conteúdos rigorosos que servirão de base ao projecto museográfico do Centro, à sua acção educativa e à sua política editorial.

4 – A constituição de um centro de documentação dotado de biblioteca especializada e particularmente vocacionado para um público-alvo de nível universitário, através de uma vertente dirigida para a investigação e formação na área do património.

5 – A criação e disponibilização à comunidade de um arquivo histórico do concelho de Rio Maior, até hoje inexistente.
























Património documental. Cartão de beneficiário da Caixa dos “Carvões” gentilmente doado pelo antigo funcionário da EICEL, António Severino Pereira.

Notas:

(38) José Manuel Brandão defende a preservação/ conservação in situ dos bens móveis e imóveis da mina como um dos pilares essenciais da acção museológica em museus mineiros. Ver: BRANDÃO, José M. – A problemática da musealização de espaços mineiros. Um caso exemplar: proposta de instalação do Museu das Minas de Argozelo. Dissertação de Mestrado em Museologia apresentada ao Departamento de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias sob a orientação do Prof. Dr. Eng.º Henrique Botelho Miranda, Lisboa, 2002. Exemplar policopiado, pág. 169.

Continua no próximo número do Região de Rio Maior

In Região de Rio Maior nº1184, de 17 de Junho de 2011

sexta-feira, junho 17, 2011

EICEL. Programa de Acção 2011 - 2014 (parte 10)

(continuação do nº1182, de 3 de Junho de 2011, pág. 7)

























Gráfico 2: Esquema de enquadramento das áreas de estudo a aprofundar para apresentação da história e do património do Couto Mineiro do Espadanal.

2 – Economia e Política:

O contexto económico e político internacional das duas Grandes Guerras do século XX está na origem da descoberta e do desenvolvimento industrial da extracção de carvões em Rio Maior. Importa assim disponibilizar ao visitante uma percepção histórica do período e das condicionantes de acesso ao mercado internacional de combustíveis durante os dois conflitos. A contextualização histórica deverá ser aprofundada em núcleo específico dedicado à indústria dos carvões em Portugal, fortemente impulsionada naquele período.

A continuação da lavra no couto mineiro do Espadanal, no pós-guerra, é resultado da intervenção do Estado, procurando-se assegurar a manutenção de uma reserva estratégica de combustível para a região de Lisboa e estudando-se o aproveitamento das lignites numa das indústrias de base que então se procurava desenvolver: os adubos azotados. A relevância do património mineiro do Espadanal enquanto documento material da política económica do Estado Novo deverá ser apresentada em núcleo específico.

Encerrando esta segunda secção parece-nos relevante um enquadramento da evolução internacional das políticas ambientais, apresentando as razões do abandono do projecto de exploração das décadas de setenta e oitenta, bem como as condicionantes que, mesmo perante a existência de mais de duas dezenas de milhões de toneladas de lignite em reserva no jazigo de Rio Maior, impendem sobre uma eventual exploração futura.

3 – Capacidade Empresarial:

As minas integrantes do couto mineiro do Espadanal foram concessionadas a quatro empresas entre 1918 e 1988: a firma Leites, Sobrinhos e C.ª (1918-1920), a Empresa Industrial, Carbonífera e Electrotécnica, Limitada (EICEL) (1920-1970), a Companhia Portuguesa de Electricidade (CPE) (1970-1976) e a empresa Electricidade de Portugal (EDP) (1976-1988). A exposição permanente deve apresentar ao visitante a actividade das várias empresas concessionárias, com destaque para a EICEL, descrevendo sucintamente os processos de registo e concessão de minas, apresentando os percursos biográficos dos mais relevantes accionistas, dirigentes e técnicos, com natural destaque para António Custódio dos Santos, descobridor legal e grande impulsionador da exploração da Mina do Espadanal, e para Luís Falcão Mena, director técnico da EICEL entre 1944 e 1964, com uma acção importante durante o período de maior desenvolvimento industrial e social da actividade mineira em Rio Maior.

Procurar-se-á apresentar esquematicamente a evolução da organização empresarial do empreendimento mineiro, procedendo-se a uma análise comparativa com empresas congéneres e coevas.

Continua no próximo número do Região de Rio Maior

In Região de Rio Maior nº1183, de 10 de Junho de 2011

sábado, junho 11, 2011

EICEL. Programa de Acção 2011 - 2014 (parte 9)

(continuação do nº1181, de 27 de Maio de 2011, pág 7)


















Gráfico 1: Proposta de estrutura organizativa para o Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro do Concelho de Rio Maior.

Para a concretização do quadro de missão definido, e tendo em conta uma perspectiva de gestão limitada pela presente escassez de recursos financeiros, propõe-se a criação de uma estrutura organizativa simplificada, de base associativa, assente em quatro eixos estreitamente articulados de actuação: Interpretação, Investigação, Dinamização e Divulgação (gráfico 1).

Interpretação:

A mediação entre os visitantes e o património é a função primordial do Centro. Define-se como objectivo central a produção de uma exposição permanente da história e do património do Couto Mineiro do Espadanal, com base na investigação, selecção e encenação do espólio documental, fotográfico e móvel da antiga exploração mineira bem como da reconstituição da actividade na mina, dos métodos de lavra e do património edificado desaparecido, através de modelos à escala e representações gráficas.

O estudo já realizado permite identificar quatro grandes áreas de investigação que concorrem para a compreensão do fenómeno mineiro local e que deverão corresponder a quatro secções, estreitamente articuladas, de um percurso sequencial de base histórica e científica a apresentar na Exposição Permanente:

1 – Ciência, Técnica, Arte:

A interpretação das circunstâncias que estão por detrás do empreendimento de uma exploração mineira terá sempre como ponto de partida a compreensão dos fenómenos geológicos que originaram o depósito, numa região específica, de um ou mais minerais em quantidades aproveitáveis economicamente pelo engenho humano em determinado estágio da evolução técnica e científica das sociedades.

No caso do couto mineiro do Espadanal, importa, antes de mais, apresentar ao visitante o posicionamento geográfico do jazigo, contextualizando-o na importante variedade de recursos geológicos da região. Seguir-se-á a apresentação de um modelo geológico do jazigo, tendo por base os numerosos estudos existentes, em particular os trabalhos de Georges Zbyszewski, descrevendo as características dos diferentes minérios em presença e as suas aplicações industriais na época de funcionamento da lavra mineira.

A compreensão da evolução tecnológica do complexo mineiro do Espadanal desenvolver-se-á a partir do segundo núcleo, com a apresentação dos trabalhos de prospecção geológica do jazigo e das técnicas de lavra mineira utilizadas. Neste particular parece evidente a utilidade da representação tridimensional dos métodos utilizados na traçagem e desmonte do jazigo e de toda a infra-estruturação de superfície, seja em maqueta ou com o recurso a modelos informáticos.

Um terceiro núcleo da área dedicada à ciência, técnica e arte, deverá ter como objecto os métodos industriais de processamento das lignites, projectados e aplicados no Espadanal. Caberá aqui a descrição dos diferentes sistemas experimentais de secagem utilizados, a apresentação do projecto de instalação de uma central termoeléctrica à boca da mina e, com particular destaque, do projecto da fábrica de briquetes, cujo funcionamento deverá ser pormenorizadamente descrito. Destaca-se novamente a importância do recurso a modelos tridimensionais e à profusa documentação gráfica e fotográfica existente em arquivo.

Um núcleo dedicado aos sistemas de transporte do minério para os centros de consumo encerrará a primeira das quatro secções do discurso interpretativo. A via-férrea mineira de Rio Maior ao Vale de Santarém será o elemento central, descrevendo-se a sua história e património, se possível, em parceria com a Fundação Museu Nacional Ferroviário.

Continua no próximo número do Região de Rio Maior

In Região de Rio Maior nº1182, de 3 de Junho de 2011

segunda-feira, junho 06, 2011

Rio Maior poderá integrar Roteiro das Minas de Portugal





















Nuno Rocha, presidente da EICEL e Bernardo Lemos, do Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro e Geológico de Portugal, na III Jornada do Património Mineiro do Concelho de Rio Maior.

A defesa de uma recuperação faseada da antiga fábrica de briquetes e a inauguração de uma exposição, com trabalhos elaborados por alunas da Escola Secundária, marcaram a III Jornada do Património Mineiro do Concelho de Rio Maior, organizada pela EICEL e que se subordinou ao tema "Património e Comunidade. A Escola e as Redes de Conhecimento".





















A mesa da III Jornada: o presidente da EICEL, Nuno Rocha, Bernardo Lemos, a vereadora da Educação e Cultura, Sara Fragoso, a aluna Andreia Dias que foi a moderadora e os professores Paulo Sá e Ângela Rodrigues.

Um dos principais pontos de interesse desta jornada, que decorreu em 21 de Maio na Biblioteca Municipal de Rio Maior, foi a apresentação do projecto de Roteiro das minas e Pontos de Interesse Mineiro e Geológico de Portugal, no qual a EICEL defende a inclusão do que resta da antiga Mina do Espadanal, em Rio Maior. Este roteiro foi apresentado pelo técnico responsável pela sua implementação e dinamização, Bernardo Lemos. Trata-se de um portal de internet que coordena e divulga informação, essencialmente de carácter turístico. E que poderá ser mais um meio para promover Rio Maior.

Bernardo Lemos apontou vários exemplos de como antigas minas desactivadas, e mesmo algumas ainda em laboração, se podem tornar focos de desenvolvimento local, com aproveitamento lúdico, turístico e científico. E realçou a grande diversidade de modelos e soluções, desde pequenos museus que apenas abrem ao público uma tarde por semana, até geoparques e centros de ciência viva que atraem "três autocarros de visitantes por dia".

Para integrar este roteiro, que reúne já 28 diferentes "pontos de interesse" do país, a Mina do Espadanal terá de preencher alguns requisitos, nomeadamente dispor de apoio de interpretação para visitantes que não sejam especialistas em minas e geologia.

A história da Mina do Espadanal

Pela entidade promotora destas jornadas, a EICEL, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, de Rio Maior, falou o presidente da sua direcção, Nuno Rocha. Este orador sublinhou que "o trabalho desenvolvido desde a década de 80 no estudo, inventário e musealização do património industrial e mineiro em Portugal permite-nos fundar o projecto do Espadanal num plano não meramente teórico, mas apoiado em exemplos concretos da existência de viabilidade técnica para a sua implementação".

Traçou de seguida um resumo da história da Mina do Espadanal, na qual realçou o peso das duas guerras mundiais, de 1914-18 e de 1939-45, e o impacto social que a laboração da mina teve na então vila de Rio Maior.

Foi no final do ano de 1914, "com a subida do preço dos combustíveis provocada pelo início da I Guerra Mundial", que foi constituída a primeira sociedade de pesquisas. E foi em 1916 que a Mina do Espadanal foi registada. A iniciativa coube a um destacado republicano riomaiorense, António Custódio dos Santos.

O período compreendido entre a década de 20 e o ano de 1939 será caracterizado por uma exploração residual devida à dificuldade de colocação das lignites no mercado de combustíveis. Mas com a II Guerra Mundial, o Estado português foi confrontado com a necessidade de incrementar a produção nacional de combustíveis fósseis para fazer face a crescentes dificuldades de importação de carvões estrangeiros.

Segundo Nuno Rocha, o governo, então liderado por Salazar "atribui às minas de Rio Maior um papel de relevância no panorama nacional de produção de combustíveis".

O presidente da EICEL, que recentemente apresentou uma tese de mestrado sobre este tema, afirma que a exploração intensiva das minas do Espadanal resultou numa "significativa transformação do tecido social riomaiorense. Constroem-se novas áreas residenciais, promove-se a assistência na saúde em posto médico e centro de assistência infantil criados pela EICEL, e perante a incapacidade de acolhimento das crianças no estabelecimento de ensino da vila, a empresa cria um posto escolar. no plano cultural destaca-se a introdução de uma cultura popular mineira de que é exemplo a tradicional festa de Santa Bárbara, e a produção musical com a criação de um Grupo Coral e Orquestra Folclórica. No capítulo desportivo é criado o Clube de Futebol «Os Mineiros», colectividade determinante no desenvolvimento da prática desportiva local".

Depois da II Guerra Mundial, o governo continuou a apostar na Mina do Espadanal. Em 1955 foi inaugurada a fábrica de briquetes, pequenos blocos de combustível feitos a partir de carvão em pó. Nuno Rocha aponta que este investimento constituiu "uma aposta singular na inovação tecnológica no panorama da extracção decarvões em Portugal".

A fábrica laborou durante catorze anos. Mas não conseguiu concorrer "num mercado de combustíveis estabilizado e já maioritariamente dominado pelos produtos petrolíferos". Em 1969 cessou a laboração. A ideia de aproveitamento da Mina do Espadanal para alimentar uma central termoeléctrica arrastou-se durante anos e nunca se chegou a concretizar. As instalações da fábrica acabaram por ser transformadas em Estaleiro Municipal.

Nuno Rocha historiou depois um pouco do trabalho recente pela preservação e aproveitamento do que resta do património mineiro de Rio Maior. E defendeu a solução de uma recuperação daseada para a antiga fábrica de briquetes, que permita incluí-la no Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro e Geológico de Portugal.

A exposição

A terceira Jornada do Património Mineiro de Rio Maior terminou com a inauguração de uma exposição de dois trabalhos elaborados por alunas do 12º ano da Escola Secundária de Rio Maior. Foi aliás a uma dessas alunas, Andreia Dias, que coube a moderação da jornada, que contou ainda com outras intervenções.

Ângela Rodrigues, em representação da direcção da Escola Secundária de Rio Maior, sublinhou "a importância do envolvimento da comunidade escolar na vida cultural local". E manifestou-se orgulhosa pelos trabalhos sobre o património mineiro riomaiorense elaborados por alunas da sua escola, sob orientação dos professores Rosa Batista e Paulo Sá. Este último, por sua vez realçou o mérito das alunas.

A vereadora Sara Fragoso, responsável pelo pelouro da cultura na Câmara Municipal de Rio Maior enalteceu a colaboração entre a EICEL e a Escola Secundária. E defendeu que "a função da escola também é formar cidadãos activos e participantes na vida da sociedade", dando como exemplo os trabalhos expostos.





































Este conjunto de fotos reporta-se à apresentação dos trabalhos das alunas do 12º ano da Escola secundária de Rio Maior, no âmbito da Área de Projecto.

Fotografias gentilmente cedidas pelo jornal Região de Rio Maior.

Luís Carvalho In Região de Rio Maior nº1181, de 27 de Maio de 2011

EICEL. Programa de Acção 2011 - 2014 (parte 8)

(continuação do nº1180, de 20 de Maio de 2011, pág 7)

1.2.2 - Instalação de um Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro do Concelho de Rio Maior

Vale mais um projecto parcial em desenvolvimento, que vários integrais, eternamente à espera de melhor oportunidade” (29).

A definição de novos usos para a fábrica de briquetes da Mina do Espadanal, independentemente da variabilidade de funções passíveis de instalação, deverá ter como requisito, na sequência dos princípios enunciados no capítulo 1.2.1, a consignação de espaços destinados a uma vertente cultural de interpretação do contexto histórico que lhe deu origem, de compreensão do contexto patrimonial mais vasto no qual se insere, e de explicação técnica do sistema edificado em presença.

Num quadro de indisponibilidade económica para o restauro integral, parece evidente que o primeiro esforço de uma intervenção conducente à preservação e valorização do património deverá centrar-se na criação de condições para a sua devolução à vivência da comunidade. Essa vivência exige, no entanto, uma mediação, como indica Paulo Pereira (2001), “apoiada em sistemas explicativos que nos subtraiam do desconhecimento” (30) e nos permitam perceber a razão de ser daquele objecto “que ali esperou por nós” (31).

A interpretação será assim “o primeiro passo para reintegrar, sem perda de “aura”, sem alienação do objecto, o monumento ou o sítio na nossa ordem contemporânea” (32), conferindo-lhe um grau essencial de “utilidade e de interacção” (33) com os visitantes.

Na procura de condições de acolhimento dos públicos potenciais do património mineiro de Rio Maior adoptamos um conceito de Centro de Interpretação, tal como entendido pelo antigo IPPAR: a instalação de uma estrutura que “explica, procede a uma interpretação, mas também regula e disciplina os fluxos de visita, associando-se-lhe uma componente científica uma vez que estes centros se encontram dotados de gabinetes de trabalho, de centro de documentação e de reservas” (34).

O Centro de Interpretação constituirá o apoio material necessário ao estabelecimento do “espaço cultural da mina” (35), tal como definido por Jorge Custódio (2005), em cuja abrangência se inserem “a investigação, a conservação e restauro dos bens técnicos, a gestão dos arquivos mineiros, reservas museológicas e da memória oral, a musealização e fruição dos espaços, turismo cultural, museus e bens móveis” (36).

1.2.2.1 – Missão e eixos de actuação:

A missão do Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro do Concelho de Rio Maior, fundada num princípio essencial de “preservação da memória e do património mineiro móvel e construído, propiciando o conhecimento dos recursos geológicos, dos métodos e técnicas utilizados na sua prospecção e extracção e favorecendo o conhecimento da história local, social e económica” (37), deverá ser assumida em três planos: Regional, Nacional e Internacional.

Plano Regional: defende-se o desenvolvimento de uma intervenção com particular incidência sobre a população escolar da região, procurando resultados no aumento de níveis de qualificação cultural e profissional, bem como na abertura de possibilidades de identificação das novas gerações com o percurso histórico da comunidade riomaiorense e de participação nos seus actuais processos de evolução.

Valência até agora inexistente no concelho de Rio Maior, a estrutura que propomos deverá assumir-se enquanto espaço por excelência para o estudo da história e do património local, disponibilizando, em estreita articulação com os agrupamentos escolares da região, os instrumentos necessários ao desenvolvimento de projectos educativos de nível básico e secundário nestas áreas de conhecimento.

Plano Nacional: surge em evidência o potencial de desenvolvimento de projectos de Investigação especializados nas diferentes vertentes de estudo associadas à indústria mineira. Propõe-se o estabelecimento de parcerias com Instituições de Ensino Superior, Entidades Governamentais e a Secção de Minas da Associação Portuguesa de Património Industrial (GEOMIN), para a criação de programas de estágio, formação e investigação, nas áreas de inventário, conservação e restauro de património mineiro.

Com base nos programas a criar, deverão estabelecer-se as condições para o estudo, conservação e divulgação do fundo documental e de património móvel do Couto Mineiro do Espadanal e preparar-se o lançamento de um inventário global do património da indústria extractiva dos carvões em Portugal, contribuindo para o desenvolvimento de redes nacionais dedicadas ao património mineiro.

Plano Internacional: o resultado dos projectos de Investigação a promover deverá permitir, no âmbito de parceria a estabelecer com a Sociedade Espanhola para a Defesa do Património Geológico e Mineiro (SEDPGYM), o desenvolvimento de um espaço ibérico de debate de conceitos e experiências através da criação de um evento científico anual, a promover nas redes europeias de património mineiro e industrial.

Notas:

(29) BARROQUEIRO, Mário – O declínio de centros mineiros tradicionais no contexto de uma geografia industrial em mudança. Dissertação de Mestrado em Geografia Humana e Planeamento Regional e Local, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa sob a orientação do Prof. Dr. Mário Vale, Lisboa, 2005. Exemplar policopiado, pág. 174.

(30) PEREIRA, Paulo – “Lugares de passagem e o resgate do tempo”. In Estudos/ Património, n.º 1. Lisboa: IPPAR, 2001, pág.7.

(31) Idem, ibidem, pág.7.

(32) Idem, ibidem, pág.7.

(33) Idem, ibidem, pág.7.

(34) Idem, ibidem, pág.14.

(35) CUSTÓDIO, Jorge – “Património Mineiro”. In Estudos/ Património, nº8. Lisboa: IPPAR, 2005, pág. 151.

(36) Idem, ibidem, págs.151-152.

(37) BRANDÃO, José M. – “Património Mineiro Português: um filão a explorar”. In Actas do Seminário Arqueologia e Museologia Mineiras. Lisboa: Museu do Instituto Geológico e Mineiro, 1998, pág. 7.

Continua no próximo número do Região de Rio Maior

In Região de Rio Maior nº1181, de 27 de Maio de 2011