sábado, outubro 30, 2004

Ponte de Ferro do Porto de Freiria

Ponte de Ferro do Porto de Freiria. Construída em 1876.

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (6ª parte)

Estradas

Passava por esta villa a estrada real, de Lisboa ao Porto, mandada construir por Dª Maria I, e n'ella se encontram algumas obras d'arte de muita importancia, como as pontes de Asseiceira e Fonte Branca: havia também a da Amieira, que foi demolida. As outras ainda estão bem conservadas.
Ao sul da villa, foi construída, em 1870, por conta do governo, uma óptima ponte de alvenaria, sobre o rio. É municipal.
Actualmente, é atravessada pela estrada real em construcção, que hade ligar Santarem com a praça de Peniche, e com a que liga esta villa com a estação do caminho de ferro da Ponte de Sant'Anna.
É n'esta estrada a ponte de Freiria, cujo taboleiro foi lançado a 27 d'Abril de 1876. Esta ponte está entre Rio Maior e o Cartaxo.
Offereceu grandes obstaculos a construcção dos fundamentos para os encontros.
A ponte é de ferro e tem 40 metros de vão, e a viga é em treilli, com 4 metros de altura. A sua construcção foi dirigida pelo distinctissimo engenheiro, o sr. Domingos da Apresentação Freire, que foi o auctor do projecto.
Foi construida pela acreditada casa Fives Lille.
Ao acto do lançamento do taboleiro assistiram os administradores de Rio Maior e Cartaxo, as camaras municipaes d'estes dois concelhos, o director das obras publicas do districto, os engenheiros da mesma direcção, mr. Labille (representante da empreza constructora Fives Lille) e mais de 4000 pessoas das visinhanças.
Durante a operação, tocaram as philarmonicas do Cartaxo e Rio Maior, e houve differentes vivas.
A ponte é no sítio chamado Porto da Freiria.
Andam em construcção, a estrada de Rio Maior a Alcobaça, e a da mesma villa a Torres Novas.
Ha também uma boa estrada municipal, nova, que vae d'aqui à aldeia das Alcobertas, na extensão de 3 kilometros.
Já se vê que este concelho não é dos mais mal dotados, quanto a viação publica.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

sexta-feira, outubro 29, 2004

Hospital da Misericórdia (1870)

Antigo Hospital da Misericórdia (Construído em 1870)

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (5ª parte)

Hospital.

Existe n’esta villa um pequeno hospital, fundado em 1619, que, segundo consta de documentos antigos, era administrado pelo hospital da Misericórdia, de Santarém. Os moradores de rio Maior, pediram a D. José I, em 17 de Janeiro de 1759, a creação de uma irmandade da Misericórdia, para curar do edifício e do tratamento dos doentes pobres. O rei lh’o concedeu, por alvará de 18 de Abril do mesmo anno, com obrigação de prestar contas annuaes ao provedor da câmara de Santarém.
A construção primittiva d’este estabelecimento de caridade, era acanhada e em más condições hygienicas; mas, em 1870, por donativos de bemfeitores, foi reconstruído, e actualmente é um edifício próprio para o fim a que é destinado; podendo accomodar até 30 enfermos que d’elle necessitem, na sua passagem para as Caldas da Rainha, que é para o que elle desde o princípio se construiu. Para custear as despezas do hospital, deixou a Infanta D. Isabel Maria, filha de D. João VI, quando regente, e por alvará do anno de 1826, para a Misericórdia, os rendimentos das Irmandades do Menino Jesus, Nossa Senhora das dores, e S. Sebastião.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

quinta-feira, outubro 28, 2004

Bocas

Bocas. Nascente do rio Maior.
(Fotografia in DUARTE, Fernando, História de Rio Maior. 1979)


Escola Comercial

Escola de Instrução Primária. Escola Comercial. Biblioteca Municipal.
Construída em 1878.

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (4ª parte)

Junto à capella de S. Miguel, já mencionada, existiu um pequeno castello, que se diz construído pelos mouros. Foi completamente demolido, e no chão que occupava se construiu uma escola de instrução primária, para ambos os sexos, com dois pavimentos, fundada pelo benemérito sr. João José da Costa, da Quinta das Bastidas, próximo desta villa, que a offereceu à câmara municipal.
O rio que atravessa a povoação, e lhe dá o nome, nasce na grande serra das Bôccas. Ainda em 1870 brotava a água por entre os serros; hoje sae por orifícios, abertos na muralha que cinge a estrada real que alli passa. É um dos sítios mais aprazíveis d’esta freguezia.
As nascentes são importantíssimas, deslisando-se a alguma distância por terreno alcantilado, mas depois entra nas férteis veigas que circundam as suas margens, até ao Tejo.
Segundo a tradição, parte d’esta água era desviada, por meio de canalisação subterrânea, da qual ainda restam vestígios, para uso de uma fábrica de fundição de metaes, no tempo dos árabes. Esta canalisação principiava (a julgar pelos vestígios) nas barreiras chamadas do Tufo, no sítio da Buraca da Moura, e terminava no sítio das Covas do Adro, onde estava o tal estabelecimento metallúrgico.
Em Agosto de 1874, andando um lavrador a alqueivar a terra, na Quinta das Bastidas, a um kilómetro da villa, sentiu que o dente do arado se lhe prendera em uma grande pedra de mármore.
Deu parte d’isto ao dono da quinta, e, depois de algumas horas de trabalho, se descobriu um magnífico subterraneo, que d’esta propriedade se dirigia para o rio, passando pela quinta do Jogo d’Ouro. Julga-se que este subterraneo está em communicação com outros. A tradição attribue esta obra aos mouros, mas, pela sua magnificência e solidez, parece mais obra romana.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

Hospício Franciscano

Hospício de Frades Franciscanos. Paços do Concelho. Demolido.
(Fotografia in DUARTE, Fernando, História de Rio Maior. 1979)

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (3ª parte)

O hospício de frades Franciscanos (arrábidos) em que já fallei, foi fundado por uma D. Anna de tal, em 1763, segundo se lê em uma inscripção que ainda alli se vê, e diz – Aedificata est aedicula Sacra família, 1763.
A fundadora doou o hospício aos franciscanos, com a obrigação de estabelecerem alli uma fábrica de buréis, para empregar as pessoas necessitadas d’esta povoação.
O edifício foi cedido à Câmara Municipal, por um officio do governo civil de Santarém, em 1837, tomando a câmara posse em 19 de Fevereiro de 1838.
Estão n’elle estabelecidas as repartições públicas do concelho, câmara, administração, repartição de fazenda, tribunal judicial, escola do sexo masculino.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal Antigo e Moderno, 1878

terça-feira, outubro 26, 2004

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (2ª parte)

Capellas d'esta freguezia
Santo António - no antigo hospício de frades Franciscanos. Foi isto vendido em 1834, e a capella ficou profanada. O seu altar era de primorosa talha dourada e os azulejos que revestiam as paredes interiores, de notável correcção de desenho.
S. Gregório - ao E. da villa, d'ela só restam as ruinas.
S. Miguel, archanjo - no ponto mais elevado d'este sítio, e d'onde se gosa um magnífico panorama. Pertence à irmandade das Almas.
S. Sebastião - em sítio alegre e espaçoso, e cujo padroeiro é objecto de grande devoção do povo. Foi construida em 1569 e o alpendre feito em 1688.
Todas estas capellas são em Rio Maior.
S. António - na aldeia da Azinheira. É pública, e festeja-se o padroeiro no seu dia.

Santo André - junto ao logar da Anteporta. A festa do padroeiro é no 1º de Janeiro de cada anno. Também n'esta ermida se festeja Santo António no dia 13 de Junho de cada anno.
S. Domingos e Santo Amaro - no logar da Asseiceira, a 5 kilometros da villa; pública - e cuja festa é em um dos domingos de Outubro. Deste logar até à villa, ainda se vêem varios lanços de muros e supporte e outros vestígios, da antiga estrada militar, de Lisboa para Peniche, e que passava pela villa.
S. João Baptista - no logar da Fonte da Bica: é pública e se festeja no seu dia. Também n'esta capela se festejam todos os annos as imagens de Nossa Senhora do Monte do Carmo, Nossa Senhora da Ajuda, Santo António e S. Sebastião.
S. Payo - na quinta do mesmo nome, hoje propriedade do sr. Vicente Augusto de Araújo Camizão. Antigamente, quando alguém tinha sesões, recorria a este santo, e hiam à sua capella em romaria, e alli comiam sopas de ovos! Este costume acabou; mas ainda se faz uma festa annual ao padroeiro.
Nossa Senhora da Luz - em uma propriedade da srª Viúva Caldas, de Santarém. A padroeira é objecto de grande devoção dos povos d'estes sítios, que lhe fazem uma esplêndida festa, no dia designado pelos devotos.
Santa Anna - na serra das Bôccas. Está em ruinas.
Nossa Senhora de Nazareth - na antiga quinta do Jogadouro. Tanto a capella como as casas da quinta foram devoradas por um incêndio em 18 de Janeiro de 1823. Segundo a tradição, esta quina já existia no tempo dos mouros, e o seu nome lhe provém de um jogo que elles aqui jogavam, com bolas e paus de ouro, ou dourados. É certo que ha uns 30 annos, em uma excavação que se fez n'esta propriedade, appareceram algumas pequenas barras de ouro, em forma de disco. Esta quinta é banhada pelo rio, e é circumdada de grandes árvores, que denotam muita antiguidade.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal Antigo e Moderno, 1878

Igreja do Espírito Santo

Igreja da Misericórdia. Antiga Igreja do Espírito Santo.

Primitiva Igreja Matriz

Torre da primitiva Igreja Matriz. Igreja de N.a S.a da Conceição.

Leituras no tempo. Rio Maior 1878

Rio Maior - villa, Extremadura, cabeça de concelho, na comarca e distrito administrativo de Santarém, 85 km ao NE de Lisboa, 850 fogos. Em 1757 tinha 632 fogos.
Orago Nossa Senhora da Conceição.
Patriarchado de Lisboa.
O rei, pelo tribunal da mesa de consciência, apresentava o prior, que tinha 180 alqueires de trigo, 120 de cevada e 20$000 réis em dinheiro, tudo pago pela commenda.
Está situada junto do rio do mesmo nome, que, com 54 km de curso, desagua na margem direita do Tejo, quasi em frente de Salvaterra de Magos.
O concelho de Rio Maior, é composto de sete freguezias, todas no patriarchado, e com uma população de 2900 fogos. São - Alcobertas, Arruda dos Pisões, Azambujeira, Fráguas, Outeiro da Cortiçada, Ribeira, e Rio Maior.
É povoação muito antiga: mas não tem foral, novo ou velho; pelo menos, Franklim não o traz.
A notícia mais antiga que encontro d'esta povoação, é uma venda feita por Pero Baragão e sua mulher, Sancha Soares, em 1177, aos Templários, da quinta parte que tinham no poço e salinas de Rio Maior, cujo poço partia pelo E. com a Albergaria do Rei, pelo O. com D. Pardo e com a Ordem do Hospital, pelo N. com marinhas da mesma ordem (Espitalle se escrevia então), e pelo S. com marinhas do dito D. Pardo.
Já então as salinas de Rio Maior eram exploradas, mas consta de memórias escriptas, que antes do século XII o tinham sido em muito maior escala.
Adiante fallarei do estado actual d'estas marinhas.
Na aldeia da Azinheira, próxima à villa, e da sua freguezia, há uma bonita capella, dedicada a Santo António, e, perto d'ella, grandes pedreiras de silex (pedreneira) que se extrahe em grande quantidade; e ainda em muito maior se tirava antes de haver armas de fulminantes.
Os povos da Azinheira, empregados na factura de pedreneiras, foram até 1834 isentos de recrutamento. Hoje, a maior extracção deste producto, é para Hespanha e Ultramar.
Rio Maior nunca teve foro de villa, mas, sendo elevada a sede de concelho, por decreto de 6 de Novembro de 1836, foi desde então considerada como tal.
A primitiva egreja matriz estava a uns 4 metros do antigo leito do rio, e a uns 50 da povoação.
Consta que havia sido feita pelos ascendentes do sr. Marquez de Penalva, que eram commendadores da commenda de Nossa Senhora da Conceição, d'esta freguesia, com a obrigação dos reparos da mesma egreja; mas esta nunca se chegou a concluir.
Em 1810 principiou a arruinar-se, e d'ela apenas hoje restam as paredes e a torre, na qual ainda estão os sinos parochiaes.
Mudou-se a matriz para a pequena egreja do Espírito Santo, que pertence à irmandade da Misericórdia, e é insufficiente para conter o povo d'esta grande povoação. É de simples architectura e tem altar-mor e quatro lateraes.
A requerimento do povo, foi, em 1875, ordenado, pelo ministério das obras públicas, que se levantasse a planta para a nova egreja matriz.
Foi orçada a obra em 5 contos de réis, e os parochianos offereceram um conto.
Está marcado para local da nova egreja, o sítio onde existiu o castello mourisco de que ja fallei (?); mas sabe Deus quando ella se fará.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal Antigo e Moderno, 1878