sábado, junho 06, 2009

C.E.R. APRESENTOU-SE.

CENTRO DE ESTUDOS RIOMAIORENSES APRESENTOU-SE.

REGIÃO QUE NÃO CUIDE DA RECUPERAÇÃO E DA MANUTENÇÃO DO SEU PATRIMÓNIO HISTÓRICO E CULTURAL NÃO TEM GRANDE FUTURO.


















O Centro de Estudos Riomaiorenses (CER) realizou a sua sessão pública de apresentação no derradeiro sábado de Maio, dia 30. Foi no auditório dos Paços do Concelho cujo anfiteatro estava muito bem composto, apesar de ser fim-de-semana, o que pode muito bem atestar do interesse que esta associação para a Defesa do Património do Concelho de Rio Maior está a despertar.

O presidente da Câmara Municipal de Rio Maior, Silvino Sequeira, e a espaços a vereadora da Cultura Ana Cristina Silva, absorvida também nas iniciativas dessa tarde comemorativas do Dia da Criança, foram duas das ilustres presenças nesta sessão.

Também vimos, discreto entre a assistência, o jovem arquitecto que terá sido, porventura, quem despoletou as dinâmicas que levariam à constituição do Centro de Estudos Riomaiorenses: Nuno Rocha, vice-presidente da direcção.

Já na mesa de honra tomaram assento os presidentes eleitos dos primeiros órgãos sociais do CER: o Dr. João de Castro, da direcção; o Professor Doutor Alexandre Laureano Santos, da assembleia-geral e o Coronel Luís Faria Ribeiro, do conselho fiscal. Tinham a seu lado essa figura incontornável da historiografia portuguesa que é o Professor Doutor Veríssimo Serrão, orador convidado que ali havia de proferir a conferência "Rio Maior na História de Portugal" - e se Rio Maior tem História! Até "capital" do reino foi durante um mês e quatro dias, depreendemos nós da convicção de que por certo, em trinta e quatro ou trinta e cinco dias hão-se ter vindo aqui a despacho "secretários" de sua magestade, se é que não os trouxe logo consigo... e depois, nesses tempos de antanho havia o rei e os demais eram apenas súbditos: ele era de facto a "cabeça"... a capital. E se o rei cá esteve tanto tempo é porque havia um Paço! Adiante veremos isso.

Comecemos por deixar a apresentação do porquê do CER ao seu primeiro presidente, João de Castro, em discurso directo:

"É com grande honra e emoção que apresento, publicamente, porque para isso fui indigitado, o Centro de Estudos Riomaiorenses. Associação para a Defesa do Património. Tendo como matriz a Comissão para a Defesa do Património Cultural do Concelho de Rio Maior, formada com o objectivo de salvaguarda do património mineiro riomaiorense, o Centro de Estudos, associação sem fins lucrativos constituída no dia 29 de Outubro de 2008, rege-se pelos Estatutos, pelo Regulamento Interno, pelas deliberações da Assembleia-Geral, bem como pelas disposições aplicáveis do Código Civil e Legislação Complementar. O Centro de Estudos, constituído enquanto entidade congregadora de todos os riomaiorenses tem, como finalidade a valorização da cultura regional nas suas diferentes expressões materiais e intangíveis, em cooperação com os organismos autárquicos locais e com instituições nacionais e internacionais. Pretendemos a promoção de um compromisso geracional para a legação ao futuro das evidências de uma secular evolução histórica da comunidade riomaiorense. É nossa intenção e, decerto de todos os sócios, contrariar a existência efémera das instituições culturais riomaiorenses, erguendo com o contributo da comunidade local um pólo persistente de irradiação de Conhecimento. Temos como objectivo trabalhar em conjunto com todas as instituições autárquicas locais, Escolas, Movimento Associativo Concelhio, Ranchos Folclóricos, Bandas Filarmónicas e todas as organizações representativas de sectores da comunidade riomaiorense. Não deixaremos de aprofundar conhecimentos e procurar transmiti-los aos vindouros relativamente aos usos e costumes da região sendo imprescindível o contacto com as populações com as quais muito temos a aprender, tanto na zona norte serrana e montanhosa como na sul de planície a fazer lembrar os extensos campos ribatejanos. Não desejamos elitismos, porque o que não deve nem pode ser monopólio de uma elite, é a cultura; essa tem de reivindicar-se para a colectividade inteira. Houve quem dissesse um dia que as gerações dos homens são como as das folhas, passam umas e vêm outras. Está na nossa mão o desmentir o significado pessimista desta frase. Só figuram de folhas caídas, para uma geração, aquelas gerações anteriores cujo ideal de vida se concentrou egoisticamente em si e que não cuidaram de construir para o futuro pela resolução em bases largas, dos problemas que lhes estavam postos, numa elevada compreensão do seu significado humano. Uma região que não cuide da recuperação e da manutenção do seu Património histórico e cultural, é uma região sem grande futuro. Não nos esqueceremos do adágio popular, cada terra com o seu uso, cada roca com o seu fuso e, por certo, não deixará de despertar a curiosidade, no seu estudo, dos sócios e dos riomaiorenses em geral, as tradições populares no sentido expresso pelo saudoso professor José Leite de Vasconcelos. Como ele bem dizia, o folclore é um objecto de curiosidade para o povo, porque contém a sua obra. O Ribatejo tem grandes tradições culturais. Não esqueçamos que D. João V, foi buscar a Pernes alguns dos fundadores da Academia Real de História fundada em 1720 que foram os Padres António dos Reis e Luís Cardoso, naturais daquela vila. O exemplo de Lisboa não deixou de logo frutificar em Santarém. Nesta então vila floresceram algumas destas instituições – academias de Santarém – que tiveram títulos bem curiosos, como foram as dos «Singulares», e dos «Apolíneos», dos «Aventureiros», dos «Laureados» e da Academia Scalabitana. Encaradas no seu conjunto estas Academias desvendam aspectos fundamentais da cultura portuguesa do tempo. A existência destes centros de estudo e convívio permite defender que as correntes do pensamento nacional se fizeram sentir em muitas cidades e vilas, não sendo a irradiação do espírito apenas privilégio das pessoas cultas que viviam na órbita da capital. A mais valiosa no que respeita a estudos históricos, como V.ª Ex.ª Senhor Professor Veríssimo Serrão, assegura, foi a dos Aventureiros Scalabitanos, na qual foi primeiro presidente o Padre Luís Montês Matoso. Parafraseando Virgílio Arruda foi aquela Academia fundada por estudantes que ali se achavam de férias e nesse convívio queriam manifestar a sua aplicação às letras. Parece ter herdado parte do prestígio cultural da Academia Real da História, que então vivia horas decadentes. No ano seguinte, em 1746, teve aquela Academia por nome Scalabitana cujo labor revela uma produção de grande interesse cultural. Era este o largo movimento cultural em Santarém no século XVIII. Longe de atingir este desígnio porque apenas o fiz como relato histórico, Rio Maior e o seu concelho tem presentemente, ao contrário de há três dezenas de anos, uma população escolar considerável. Existe uma significativa presença de riomaiorenses a frequentar os diversos graus de ensino superior em universidades portuguesas e estrangeiras e uma notória massa crítica que poderá e deverá ser aproveitada para pensar em conjunto, democraticamente, no progresso de Rio Maior, pelo seu alindamento crescente e para uma melhor qualidade de vida com o aproveitamento invejável do seu posicionamento regional. Há que unir esforços e imprimir acção. A história e a cultura não podem ser esquecidas. Viva Rio Maior!"

Divulgados os objectivos gerais do CER, Alexandre Laureano Santos passou a apresentar o conferencista de "Rio Maior na História de Portugal", o emérito académico Professor Doutor Veríssimo Serrão, ribatejano, natural de Santarém, doutorado por diversas universidades por esse mundo fora e autor de mais de 400 obras. Uma subida honra, tanto mais que a conferência era "a actividade pública inaugural do nosso Centro de Estudos Riomaiorenses", sublinhou o eminente cardiologista e presidente da assembleia geral do CER, lembrando em largas pinceladas o extenso curriculum do orador.

RIO MAIOR NA HISTÓRIA DE PORTUGAL

Limitar-nos-emos, aqui, a sintetizar os factos mais significativos invocados por Veríssimo Serrão, sobre Rio Maior na História de Portugal.

- Rio Maior a partir do Século XVIII (anos 1700) passa a ser um ponto importante das ligações entre o Norte e o Sul.

- Quando Rio Maior chegou a sede de concelho em 1836 já há muito que o merecia. Influenciavam a sua vida o Mosteiro de Alcobaça que aqui buscava minérios; a Ordem de Aviz que se prolongava até às Alcobertas e tinha o castelo de Alcanede e a Ordem de Cristo que possuía muitos bens nestas terras.

-Além de Rio Maior existiam a Azambujeira, pequenas povoações com S. João da Ribeira ou Ribeira de S. João e mais acima Turquel.

- Em 1167 há salinas em Rio Maior.

- No século XIII Rio Maior era uma terra apetecida pelas suas riquezas naturais. Em 7 de Abril de 1250 o Mosteiro de Alcobaça faz uma doação a D. Estêvão Joanes, chanceler de Afonso III, de casas, vinhas, herdades, fornos e moinhos em Rivolo Major (Rio Maior), termos de Santarém.

- Em 1342 existia em Rio Maior a Igreja de S. João. Nesse ano, por indicação do bispo de Lisboa, Vasco Moniz, bispo de Lamego, veio a Rio Maior baptizar as crianças que estavam por baptizar.

- Em 1362, D. Pedro I manda entregar a sua terra de Rio Maior, no almoxarifado de santarém, a um Estêvão Lobo, seu vassalo.

- 1379 - D. Fernando I faz mercê a Gonçalo Vasques, pelos serviços prestados pelos pais à Coroa, de reguengos, casas, vinhas, moinhos, etc. e cobrança de coimas.

- O Conde Andeiro, morto em 1383 pelo Mestre de Aviz, em Lisboa, esteve para ser assassinado em Rio Maior em 1382 pelo uirmão da rainha D. Leonor Teles, era ainda o rei D. Fernando I, vivo. E o conde saíra desarmado, levando apenas uma tocha na mão, do Paço... em Rio Maior.

- Havia um Paço em Rio Maior. A corte esteve em Rio Maior entre 4 de Novembro e 8 de Dezembro de 1382; há documentos régios assinados aqui - eram os Paços de Rui Garcia do Casal.

Mas há mais.

" A história de Rio Maior é muito antiga, o que é preciso é fazê-la. Os jovens, uns que estudem a pré-história, outros os primeiros reinados... Façam uma revista anual com os artigos sobre a história e o papel de Rio Maior. Podem contar comigo. Têm a minha biblioteca em Santarém, vão lá ter, trabalham comigo, vou-lhes dando uns temas que vale a pena aprofundar, para lançarem o Centro de Estudos Riomaiorenses", sugeriu o Professor Doutor Veríssimo Serrão.

Carlos Manuel in Região de Rio Maior nº1078, de 5 de Junho de 2009.