segunda-feira, janeiro 27, 2014

Antigos mineiros lançam movimento de apoio a parceria entre o Município de Rio Maior e a EICEL1920 para instalação de Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro

Mineiros empurrando vagoneta em galeria de rolagem da Mina do Espadanal. José Lobo, Século Ilustrado, 1955.

A EICEL1920, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, apresentou à Câmara Municipal de Rio Maior, em carta datada de 11 de Novembro de 2013, uma proposta para o estabelecimento de parceria tendo como objectivo a instalação de um Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro na antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal, e que está presentemente em apreciação pela autarquia.

Os antigos mineiros e funcionários da Empresa Industrial, Carbonífera e Electrotécnica, Limitada (EICEL), e suas famílias, que têm colaborado de forma notável no esforço colectivo de recuperação da memória e do património da Mina do espadanal, entenderam expressar publicamente o seu apoio a este projecto, através do lançamento de uma "Petição pelo estabelecimento de uma parceria efectiva entre a Câmara Municipal de Rio Maior e a EICEL1920 para a instalação de Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro".

Este movimento de apoio promovido pelos antigos mineiros, que em apenas uma semana reuniu já mais de 200 subscrições, está aberto à participação de todos os cidadãos mediante assinatura da petição, disponível em papel no Ganaus Café, em Rio Maior, ou na internet, em: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=mina-do-espadanal

O empenho dos cidadãos, do movimento associativo e do município, na recuperação do património mineiro, demonstra, cremos, a existência de todas as condições para a mobilização da comunidade em torno de um projecto conjunto de grande significado para a valorização do património histórico e cultural do nosso concelho.

A Direcção da EICEL1920, honrada pelo voto de confiança expresso pela Comunidade Mineira, deliberou divulgar o texto da petição lançada no passado dia 18 de Janeiro, e que transcrevemos:

"Petição pelo estabelecimento de uma parceria efectiva entre a Câmara Municipal de Rio Maior e a EICEL1920 para a instalação de Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro".

"Após a divulgação de proposta apresentada pela EICEL1920, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, à Câmara Municipal de Rio Maior, para instalação de Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro na antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal, os antigos mineiros e funcionários da Empresa Industrial, Carbonífera e Electrotécnica, Limitada, e respectivas famílias, entendem ser necessário expressar publicamente o seu apoio incondicional a este projecto.

A importância da intervenção cívica da EICEL1920 no estudo, defesa e valorização do património mineiro riomaiorense foi reconhecida pela Assembleia Municipal de Rio Maior em Voto de Louvor aprovado no dia 14 de Setembro de 2013.

Tal como se afirma no referido Voto de Louvor, a EICEL1920 mobilizou a comunidade riomaiorense para a defesa do património mineiro do nosso concelho; recuperou um notável espólio do antigo Couto Mineiro do Espadanal, que pretende disponibilizar aos riomaiorenses com a instalação de um Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro; promoveu o envolvimento das novas gerações na valorização do património concelhio; introduziu em Rio Maior o Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro e Geológico de Portugal; assegurou o reconhecimento científico da importância do património mineiro riomaiorense sustentado em tese de mestrado defendida no Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; disponibilizou ao Município de Rio Maior um contributo inestimável para o reconhecimento do património mineiro romaiorense no Plano Estratégico de Desenvolvimento de Rio Maior; e inverteu o estado de abandono a que estava votado o complexo mineiro do Espadanal, nomeadamente através da realização de acções voluntárias de conservação do património mineiro.

A EICEL1920 detém o mais aprofundado conhecimento técnico e científico sobre a história e o património mineiro do concelho de Rio Maior, contando com o apoio de especialistas e entidades internacionais. Este facto foi reconhecido pelo Município ao adoptar e transcrever as propostas da associação e os estudos dos seus membros no Plano Estratégico de Desenvolvimento de Rio Maior.

A importância da colaboração entre a Câmara Municipal de Rio Maior e a EICEL1920 está patente nos bons resultados obtidos com a parceria em curso para as Acções Voluntárias de Conservação do Património Mineiro, que têm demonstrado a capacidade de trabalho conjunto de entidades e movimento associativo para o interesse geral da comunidade.

A Direcção da EICEL1920 vem, desde a sua constituição, apresentando à Câmara Municipal de Rio Maior propostas para a recuperação faseada do complexo mineiro do Espadanal, mediante a instalação de um Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro.

Com este objectivo a associação assumiu o desafio de realizar trabalhos de reabilitação na antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal e, para tal, solicitou à Câmara Municipal de Rio Maior a cedência, por um período a determinar, de uma das áreas devolutas deste conjunto edificado, assumindo todos os encargos necessários à execução de um projecto de reabilitação segundo critérios científicos rigorosos e sem custos para o Município, com acompanhamento de Instituição Universitária credenciada, no âmbito de programa de Doutoramento supervisionado por especialistas internacionais nas áreas da arquitectura e do património industrial.

O complexo mineiro do Espadanal é um património definidor da identidade de todos os riomaiorenses e deve ser recuperado num esforço colectivo, envolvendo os melhores contributos da nossa comunidade. A Câmara Municipal de Rio Maior tem na EICEL1920 um parceiro privilegiado e insubstituível para a realização desta tarefa. Estão assim reunidas todas as condições para a realização de um trabalho de referência mediante o estabelecimento de uma parceria efectiva entre a autarquia e o movimento associativo.

Os antigos mineiros e funcionários da Empresa Industrial, Carbonífera e Electrotécnica, Limitada, e suas famílias, identificam-se com o projecto da EICEL1920, no qual foram chamados a participar activamente desde a primeira hora, e reconhecem nesta associação a sua representante junto do Município de Rio Maior para os assuntos relacionados com a recuperação do património mineiro riomaiorense."

Os antigos mineiros e seus familiares terminam solicitando à Câmara Municipal de Rio Maior "o estabelecimento de uma parceria efectiva com a EICEL1920, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, tendo como objectivo a instalação, na antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal, do Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro proposto por esta associação".

Fábrica de briquetes da Mina do Espadanal, em fase de acabamentos. Outubro de 1954. Colecção Luís Falcão Mena, Arquivo EICEL1920.

A Direcção da EICEL1920.
27 de Janeiro de 2014.

domingo, janeiro 19, 2014

Artigo de opinião, por Carlos Carujo: "A mina, o material e o imaterial." Região de Rio Maior nº1319, 17 de Janeiro de 2014.


Carlos Carujo
Quem não cuida do passado acaba descurando o presente e comprometendo o futuro. Este lugar-comum poderia sintetizar parte da história recente de Rio Maior. A paisagem da cidade é marcada pela Mina do Espadanal. Votada ao abandono e a deteriorar-se a cada dia, ela é hoje o símbolo desse passado desprezado e desse presente negligenciado. Mas a mina do Espadanal é mais do que paisagem. É uma peça fundamental da identidade histórica da cidade que é urgente preservar e valorizar.

Dadas as condições em que se encontra, provavelmente já não haverá nem muito tempo nem muitas oportunidades para Rio Maior cuidar devidamente dela. Daí que a proposta de reabilitar o espaço e de aí instalar um Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro, feita pela Associação EICEL1920, pareça uma oportunidade a não perder. Uma oportunidade vinda da sociedade civil, preocupada com o bem comum e não apenas com o lucro particular, que não implica custos para os munícipes e que será monitorizada por instituições nacionais e internacionais credíveis.

Trata-se de comparar esta com as outras alternativas e propostas que existam e pesar todos prós e os contras. Seja como for, é necessário que a solução se encontre antes que seja tarde demais. Seja como for, é necessário que esta solução passe por manter o património construído e não ceda a qualquer operação de especulação imobiliária sendo também preferível um projeto que ligue a dimensão geológica à memória mineira e que tenha potencial pedagógico, cultural e turístico. 

Seja como for, é necessário que, para além das preocupações com o edificado, a solução a adotar tome em conta que é igualmente urgente proteger e valorizar o património imaterial. A mina e a fábrica de briquetes são também as vidas sofridas que aí se fabricaram. E as memórias destas vidas e de que como se envolveram na reinvenção de Rio Maior também se vão erodindo com o tempo. Daí que o registo para memória futura de toda esta riqueza se deva constituir como uma fatia importante de um projeto destes.

Há uma mina em Rio Maior. A cidade dela não se pode esquecer. A mina não tem de ser uma mancha esquecida na paisagem ou um projeto do tipo “elefante branco”. Não sendo de ouro, a mina é uma riqueza. Porque o património é sempre uma mina se for potenciado e várias dimensões da economia local ficariam a ganhar com a sua requalificação. Porque a riqueza é também imaterial. Portanto, para além dessa riqueza material que possa trazer à cidade se for explorada inteligentemente, a mina esconde essa riqueza imaterial que não tem preço. A riqueza da memória das gerações passadas que devemos conseguir oferecer às gerações futuras. A riqueza da compreensão e do respeito pelo que fomos que é impagável na equação do que somos e do que queremos ser.

Carlos Carujo in Região de Rio Maior nº1319, de Sexta-feira, 17 de Janeiro de 2014.