sábado, maio 20, 2006

Arquitectura Riomaiorense Inventariada no IAPXX

12 Edifícios Inventariados no Inquérito à Arquitectura em Portugal no Século XX, promovido pela Ordem dos Arquitectos.



Arquitectura Riomaiorense Inventariada no IAPXX.

Desenvolvido desde o ano de 2003, pela Ordem dos Arquitectos, o Inquérito à Arquitectura do Século XX em Portugal, estendeu-se a todo o território nacional, recuperando a tradição do Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal, realizado entre 1955 e 1961 e tendo entre os seus objectivos a “salvaguarda dos exemplares mais paradigmáticos, assim como a sensibilização da opinião pública e dos agentes económicos, do turismo à indústria da construção, para a conservação, reabilitação e gestão deste património edificado, como elemento estruturante do desenvolvimento local.” 1
Do extenso levantamento resultou um total de 6112 obras inventariadas, em 304 concelhos.
A representação de Rio Maior, definida após visita dos arquitectos João Santa–Rita e Miguel Judas, conta com 12 edifícios, dos quais alguns se destacam pela qualidade enquanto obras de arquitectura de excepção e marcos culturais profundamente enraizados na Identidade Local.

A lista actual compreende, por ordem cronológica os seguintes edifícios:

1Fábrica de Briquetes da Mina do Espadanal. Localizada na Avenida Dr. Mário Soares, esta Unidade Industrial desactivada, condensa em si o mais importante e derradeiro testemunho de uma época fulgurante da história contemporânea riomaiorense – o Período Mineiro. Projectada em 1951 pelos engenheiros alemães Helmudth Kuhn e Lipe, foi concluída em 1955.

2Edifício Goucha. Localizado nos nºs 59 a 62 da Praça da República, foi mandado edificar pelo Sr. João Ferreira Goucha em 1954, tendo as obras ficado concluídas em 1956.

3Palácio da Justiça. Localizado no Parque 25 de Abril, este edifício é a mais notável obra de arquitectura edificada no Concelho de Rio Maior. Projectado pelo arquitecto Sebastião Formosinho Sanches em 1956, constituiu na sua época um manifesto de liberdade de pensamento, opondo a uma visão majestática da justiça, uma proposta fundada na transparência e na escala humana. Foi inaugurado em 1961.

4Estação de Serviço Cipol. Localizada na Avenida dos Combatentes, à época troço da principal via rodoviária nacional – a Estrada Nacional nº1 – foi edificada entre 1962 e 1963 para a empresa de combustíveis Sacor.

5Adega Cooperativa do Instituto da Vinha e do Vinho. Localizado na Estrada Nacional nº114, ao Gato Preto, este grande complexo constitui um testemunho de uma época de grande actividade da produção vinícola no concelho de Rio Maior. Projectado em 1957, apenas em 1962 foram iniciadas as obras de construção que ficaram concluídas em 1964. Esta Unidade Agrícola, encontra-se hoje desactivada.

6Igreja de N.ª S.ª da Conceição. Localizada no Largo Pe. Quartilho, a Igreja Matriz foi uma das obras mais longamente esperadas pela comunidade riomaiorense. Quase um século depois da primeira tentativa de edificação e após cerca de uma década de acesa polémica quanto à sua localização e arquitectura, foi em 1968 inaugurado o novo templo segundo projecto dos arquitectos José Bruschy e José Zuquete.

7Casa Carlos Barbosa. Localizada na Avenida dos Combatentes, foi edificada na década de 60, segundo projecto de Mário Gomes Fontes (projectista), na nova artéria definida pela variante, então inaugurada, da Estrada Nacional nº1.

8Casa Francisco Barbosa. Localizada na Rua Latino Coelho, esta moradia projectada em 1969 pelo arquitecto Alcino Soutinho, para o Dr. Francisco Barbosa, merece destaque no conjunto das obras apresentadas. Construção do Lugar através da sábia leitura das características que lhe são próprias, esta casa insere-se num lote de gaveto, organizada em torno de um pátio interior, explorando de forma expressiva a modulação orgânica dos volumes cegos e dos elementos de madeira.

9Cinema Casimiros. Localizado na Rua David Manuel da Fonseca, este equipamento cultural foi projectado em 1974 pelo arquitecto Jaime Dias de Azevedo, com a promoção privada do Prof. Fernando Casimiro. Edificação de forte ruptura, volumétrica e formal, com a envolvente, a sua função tem ao longo das décadas sido cumprida com intermitência, permanecendo na actualidade encerrado.

10Unidade de Saúde Dr.a Maria Laudelina Barbosa. Primeiro equipamento de saúde promovido no concelho de Rio Maior pela administração central, o Centro de Saúde de Rio Maior projectado em 1978 pelo arquitecto José Bruschy e concluído em 1982, renovou profundamente as condições de acesso dos riomaiorenses à assistência médica. Preparado para uma população de 25000 habitantes, com ambulatório, banco, internamento e maternidade, não foram, no entanto, até hoje todas as suas potencialidades exploradas.

11Paços do Concelho. Este edifício central da vida pública local situa-se na Praça da Republica – lugar onde em 1838 foi instalada definitivamente a sede do então recém criado município riomaiorense, com a remodelação do Hospício de Frades Franciscanos datado de 1763. A construção actual, projectada pelo arquitecto José Amorim em 1988, é mandada edificar pelo executivo presidido pelo Dr. Silvino Sequeira, com a demolição do primitivo edifício autárquico. A nova obra foi inaugurada em 1992 com a visita do Presidente da República Dr. Mário Soares.

12Estádio Municipal. Elemento fundamental de um vasto complexo desportivo e escolar, foi edificado segundo projecto do arquitecto José Amorim na segunda metade da década de 90 e concluído em 2004. De acordo com os critérios de selecção do IAPXX, apenas os edifícios projectados e construídos dentro do limite temporal deste inventário – 1901/ 2000 – são passíveis de inventariação, pelo que desta última obra será, eventualmente, apenas inventariada uma primeira fase.

Da representação de Rio Maior, é dado especial destaque no texto final do IAPXX, secção de Lisboa e Vale do Tejo, da autoria dos arquitectos João Vieira Caldas e José Silva Carvalho, aos edifícios da Fábrica de Briquetes da Mina do Espadanal, Adega Cooperativa do Instituto da Vinha e do Vinho, Palácio da Justiça e Estádio Municipal.
Importa mencionar como dado concreto apresentado pela leitura do conjunto inventariado, um número de imóveis em mau estado de conservação que ascende aos 392, e para os quais se estuda presentemente uma metodologia de salvaguarda.
Em Rio Maior, destaca-se nesta situação a Fábrica de Briquetes da Mina do Espadanal.

A inventariação do património arquitectónico concelhio tem sido desenvolvida a nível local no âmbito da actual capacidade técnica da Junta de Freguesia de Rio Maior.
Este órgão autárquico pretende, com base no trabalho realizado, desenvolver uma política de valorização e salvaguarda do Património Cultural e da Identidade Local, potenciando o seu papel de interlocutor directo com as populações, na sensibilização para o valor do património enquanto recurso de desenvolvimento e na eventual classificação dos exemplares mais significativos da arquitectura riomaiorense.
O inventário local compreende actualmente cerca de 80 obras num levantamento que se estende à totalidade da área do concelho de Rio Maior. Na sequência deste trabalho foi recentemente estabelecida colaboração com a Ordem dos Arquitectos tendo como objectivo o desenvolvimento da representação de Rio Maior no IAPXX, com informação específica recolhida sobre cada um dos exemplares já inventariados e propostas para a inclusão de novas edificações.
Decorre em simultâneo uma colaboração com o Instituto Português do Património Arquitectónico – que resultou já na visita ao Complexo Mineiro do Espadanal, da especialista em arquitectura industrial, Dr.ª Deolinda Folgado, esperando-se para breve um relatório preconizando as medidas a adoptar na conservação do edifício da Fábrica de Briquetes – e com a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais – estando agendada a deslocação a Rio Maior de uma técnica deste organismo, responsável pela inventariação de património na área em que se insere o concelho de Rio Maior.

A participação, neste processo de estudo, dos detentores de informação sobre os exemplares arquitectónicos apresentados é indispensável para um melhor conhecimento das suas especificidades, sendo para isso possível e desejável a colaboração destes cidadãos no IAPXX através da internet, e no inventário local através do contacto directo na sede da Freguesia de Rio Maior.
O IAPXX está disponível na internet em:
www.arquitectos.pt
O Inventário local, patrocinado pela Junta de Freguesia de Rio Maior, está disponível para consulta, na sede deste organismo autárquico, na Rua Prof. Manuel José Ferreira nº70 r/c, Rio Maior.

Nuno Alexandre Rocha. Arq.

1 CALDAS, João Vieira, CARVALHO, José Silva, IAPXX Lisboa e Vale do Tejo. Panorâmica sobre o território e seu património edificado, in Inquérito à Arquitectura do Século XX em Portugal. Ordem dos Arquitectos. 2006

In Região de Rio Maior nº919, de Sexta-feira, 19 de Maio de 2006