sexta-feira, junho 18, 2010

CENTRO DE ESTUDOS RIOMAIORENSES (CER) ORGANIZA CONFERÊNCIA NO ÂMBITO DO BICENTENÁRIO DAS INVASÕES FRANCESAS

Jean-Andoche Junot – General francês gravemente ferido em Rio Maior em 19 de Janeiro de 1811.

O Centro de Estudos Riomaiorenses (CER), associação para a defesa do património do concelho de Rio Maior, organizará no próximo dia 26 de Junho, pelas 16h, no auditório da Biblioteca Municipal, uma Conferência no âmbito do Bicentenário das Invasões Francesas, subordinada ao tema: “Rio Maior no tempo de Napoleão” e proferida pelo Professor Doutor António Pedro Vicente.

O distinto orador é Doutorado em História pela Universidade de Paris (Nanterre). Professor Catedrático de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa (UNL). Académico de Número da Academia Portuguesa de História e sócio correspondente de várias instituições, entre as quais a Real Academia de História de Espanha, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, a Academia Lusíada de Ciências, Letras e Artes de S. Paulo e as Academias de História da Venezuela, México, Chile e Argentina. Foi Conselheiro Cultural na Embaixada de Portugal em Madrid (1982/86). Foi Vogal da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses em representação do Ministério da Educação. É Vogal da Comissão Portuguesa de História Militar e membro do seu Conselho Científico em representação do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP). Prémio Calouste Gulbenkian de História, concedido pela Academia Portuguesa da História (2001). Prémio da Fundação António de Almeida (História), concedido pela Academia Portuguesa da História. Comendador da Ordem de Isabel, a Católica (Espanha). Comendador da Ordem de Mérito Civil (Espanha). Medalha de Honra da Universidade do Estado de S. Paulo (Brasil).

O CER convida todos os riomaiorenses a marcarem presença neste evento.

In Região de Rio Maior, nº1132, de 18 de Junho de 2010

sábado, junho 05, 2010

Com organização do Centro de Estudos Riomaiorenses. DIA INTERNACIONAL DA BIODIVERSIDADE INCIDIU NA SERRA DOS CANDEEIROS.


















A Jornada pelo Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, promovida pelo Centro de Estudos Riomaiorenses (CER) em 22 de Maio, Dia Internacional da Biodiversidade ocorreu num dia de Primavera esplendoroso e sem vento, com uma atmosfera tão límpida que permitia descortinar os contornos da Serra da Arrábida do cimo dos Candeeiros. Cerca de quarenta participantes reuniram-se junto à igreja paroquial de Rio Maior e, num pequeno autocarro e em carros privados, fizeram rumo à serra.

A primeira paragem foi nas Salinas onde o Professor Doutor Fernando Mangas Catarino deu início a uma interessantíssima aula informal, semelhante a muitas outras que proferiu nesta serra aos seus alunos da Faculdade de Ciências.

A serra inicia-se próximo do Arrimal estendendo-se para sudoeste até a um paralelo a sul de Rio Maior, numa extensão de mais de 20km. Os Candeeiros podem ser considerados como integrando uma cordilheira que principia no topo meridional da Serra de Sintra, depois Montejunto, Candeeiros e Aire, Sicó, Lousã, Açor, Estrela e Malcata, limitando sempre a norte a bacia hidrográfica do Tejo. O conjunto da Serra de Aire e Candeeiros é composto por três maciços separados por depressões originadas por fracturas: Serra dos Candeeiros propriamente dita, Planalto de Santo António e Planalto de S. Mamede/ Serra de Aire, separados pelas depressões de Mendiga, de Alvados e de Minde. Este maciço de rochas resultou do enrugamento e da elevação da crosta terrestre por movimentos das placas tectónicas durante centenas de milhões de anos, elevando o leito do oceano tranformado pelo tempo em rocha calcária, formando-se assim enrugamentos, pregas, fendas e fracturas. A erosão do vento e das chuvas, os depósitos dos materiais desagregados nos vales cavados entre as pregas alteadas, a presença de uma vegetação rasteira consumida periodicamente pelos fogos estivais, a presença animal e a acção humana durante milhares de anos deram a forma actual à serra. A desagregação química da rocha calcária pelos materiais ácidos e a infiltração das águas das chuvas pelas fendas das rochas calcárias (acção cársica), à superfície e em profundidade, escavaram e moldaram na rocha uma extensíssima rede de galerias que durante as estações das chuvas se enchem de água e constituem as grutas. Esta vastíssima rede forma verdadeiras lagoas subterrâneas, constitui provavelmente o maior aquífero da península ibérica e é uma fonte imensa de recursos que deve ser conhecida, compreendida e respeitada.

Estas serras são ocupadas desde a mais remota antiguidade por populações humanas com culturas diversas que deixaram documentos da sua presença. Existem numerosos vestígios pré-históricos, nomeadamente em grutas que foram habitadas por populações em idades pré-históricas diferentes. Existem também vestígios de épocas muito posteriores de comunidades visigóticas, romanas, árabes e cristãs."


Fernando Catarino - uma lição a cada passo.

Das Salinas o grupo dirigiu-se para as Alcobertas e daqui para Casais Monizes. No trajecto houve várias paragens onde o Professor apontou exemplos da acção cársica nas rochas superficiais e da acção da erosão, mostrando exemplos da flora característica da serra, referindo-se às suas formas macroscópicas (árvores e arbustos) e às numerosíssimas espécies microscópicas, aos fungos, às algas e aos líquenes, mais abundantes nos locais húmidos e abrigados das fendas e dos algares. Entre as referências a dois motivos de interesse da serra, o Professor teve ocasião de ler e comentar um poema de Alberto Caeiro (um dos heterónimos de Fernando Pessoa), dando um tom de globalidade à sua lição. Mais adiante o grupo parou junto a uma área cultivada no planalto, regada pela água da chuva, onde numa baixa no cimo da serra, é possível cultivar cereais e produtos hortículas.

O grupo dirigiu-se ao Arrimal onde o Professor comentou a formação das lagoas e a modificação do seu aspecto ao longo das últimas centenas de anos. Referiu-se a que o Arrimal, no tempo da reconquista, seria uma espécie de éden, onde existiam lagoas de muito maior extensão que as actuais e uma flora composta por castanheiros, azinheiras e sobreiros de grande porte, dos quais ainda existem alguns exemplares certamente descendentes dos que então ocupavam uma muito mais extensa área florestal. Esta paisagem edílica terá sido o argumento de maior peso utilizado por D. Afonso Henriques para convencer os monges de Cister e fixarem-se nas terras do Oeste da Península, nesse tempo constituídas sobretudo por vastos terrenos pantanosos, alagadiços e insalubres (sobretudo pela presença de epidemias de origem hídrica e da malária).

O grupo almoçou no Restaurante Terra Chã, onde teve a presença de um simpático conjunto de músicos que integra o Rancho Folclórico de Chãos.

Depois, já na cidade de Rio Maior, Fernando Mangas Catarino proferiu uma interessante conferência sobre a flora serrana local a que deu o título de "Candeeiros que iluminam a Biodiversidade" e ao longo da qual descreveu as características de grande parte das plantas endémicas da Serra dos Candeeiros, para um auditório da Biblioteca Municipal muito bem composto.

"Rio Maior tem estado de costas voltadas para a sua serra e tem a obrigação de a «cultivar». A serra também somos nós, também é a nossa terra e por isso temos hoje connosco o Professor Fernando Catarino - um grande amigo da Serra dos Candeeiros", afirmou Alexandre Laureano Santos, médico cardiologista e presidente da Assembleia Geral do CER, na introdução à conferência.

Maria da Graça Alves Vieira, por sua vez, deu a conhecer alguns dos mais marcantes traços da personalidade do antigo director do jardim Botânico da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.


(Fotografias gentilmente cedidas pelo Jornal Região de Rio Maior)


In Região de Rio Maior, nº1129, de 28 de Maio de 2010