segunda-feira, junho 06, 2011

EICEL. Programa de Acção 2011 - 2014 (parte 8)

(continuação do nº1180, de 20 de Maio de 2011, pág 7)

1.2.2 - Instalação de um Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro do Concelho de Rio Maior

Vale mais um projecto parcial em desenvolvimento, que vários integrais, eternamente à espera de melhor oportunidade” (29).

A definição de novos usos para a fábrica de briquetes da Mina do Espadanal, independentemente da variabilidade de funções passíveis de instalação, deverá ter como requisito, na sequência dos princípios enunciados no capítulo 1.2.1, a consignação de espaços destinados a uma vertente cultural de interpretação do contexto histórico que lhe deu origem, de compreensão do contexto patrimonial mais vasto no qual se insere, e de explicação técnica do sistema edificado em presença.

Num quadro de indisponibilidade económica para o restauro integral, parece evidente que o primeiro esforço de uma intervenção conducente à preservação e valorização do património deverá centrar-se na criação de condições para a sua devolução à vivência da comunidade. Essa vivência exige, no entanto, uma mediação, como indica Paulo Pereira (2001), “apoiada em sistemas explicativos que nos subtraiam do desconhecimento” (30) e nos permitam perceber a razão de ser daquele objecto “que ali esperou por nós” (31).

A interpretação será assim “o primeiro passo para reintegrar, sem perda de “aura”, sem alienação do objecto, o monumento ou o sítio na nossa ordem contemporânea” (32), conferindo-lhe um grau essencial de “utilidade e de interacção” (33) com os visitantes.

Na procura de condições de acolhimento dos públicos potenciais do património mineiro de Rio Maior adoptamos um conceito de Centro de Interpretação, tal como entendido pelo antigo IPPAR: a instalação de uma estrutura que “explica, procede a uma interpretação, mas também regula e disciplina os fluxos de visita, associando-se-lhe uma componente científica uma vez que estes centros se encontram dotados de gabinetes de trabalho, de centro de documentação e de reservas” (34).

O Centro de Interpretação constituirá o apoio material necessário ao estabelecimento do “espaço cultural da mina” (35), tal como definido por Jorge Custódio (2005), em cuja abrangência se inserem “a investigação, a conservação e restauro dos bens técnicos, a gestão dos arquivos mineiros, reservas museológicas e da memória oral, a musealização e fruição dos espaços, turismo cultural, museus e bens móveis” (36).

1.2.2.1 – Missão e eixos de actuação:

A missão do Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro do Concelho de Rio Maior, fundada num princípio essencial de “preservação da memória e do património mineiro móvel e construído, propiciando o conhecimento dos recursos geológicos, dos métodos e técnicas utilizados na sua prospecção e extracção e favorecendo o conhecimento da história local, social e económica” (37), deverá ser assumida em três planos: Regional, Nacional e Internacional.

Plano Regional: defende-se o desenvolvimento de uma intervenção com particular incidência sobre a população escolar da região, procurando resultados no aumento de níveis de qualificação cultural e profissional, bem como na abertura de possibilidades de identificação das novas gerações com o percurso histórico da comunidade riomaiorense e de participação nos seus actuais processos de evolução.

Valência até agora inexistente no concelho de Rio Maior, a estrutura que propomos deverá assumir-se enquanto espaço por excelência para o estudo da história e do património local, disponibilizando, em estreita articulação com os agrupamentos escolares da região, os instrumentos necessários ao desenvolvimento de projectos educativos de nível básico e secundário nestas áreas de conhecimento.

Plano Nacional: surge em evidência o potencial de desenvolvimento de projectos de Investigação especializados nas diferentes vertentes de estudo associadas à indústria mineira. Propõe-se o estabelecimento de parcerias com Instituições de Ensino Superior, Entidades Governamentais e a Secção de Minas da Associação Portuguesa de Património Industrial (GEOMIN), para a criação de programas de estágio, formação e investigação, nas áreas de inventário, conservação e restauro de património mineiro.

Com base nos programas a criar, deverão estabelecer-se as condições para o estudo, conservação e divulgação do fundo documental e de património móvel do Couto Mineiro do Espadanal e preparar-se o lançamento de um inventário global do património da indústria extractiva dos carvões em Portugal, contribuindo para o desenvolvimento de redes nacionais dedicadas ao património mineiro.

Plano Internacional: o resultado dos projectos de Investigação a promover deverá permitir, no âmbito de parceria a estabelecer com a Sociedade Espanhola para a Defesa do Património Geológico e Mineiro (SEDPGYM), o desenvolvimento de um espaço ibérico de debate de conceitos e experiências através da criação de um evento científico anual, a promover nas redes europeias de património mineiro e industrial.

Notas:

(29) BARROQUEIRO, Mário – O declínio de centros mineiros tradicionais no contexto de uma geografia industrial em mudança. Dissertação de Mestrado em Geografia Humana e Planeamento Regional e Local, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa sob a orientação do Prof. Dr. Mário Vale, Lisboa, 2005. Exemplar policopiado, pág. 174.

(30) PEREIRA, Paulo – “Lugares de passagem e o resgate do tempo”. In Estudos/ Património, n.º 1. Lisboa: IPPAR, 2001, pág.7.

(31) Idem, ibidem, pág.7.

(32) Idem, ibidem, pág.7.

(33) Idem, ibidem, pág.7.

(34) Idem, ibidem, pág.14.

(35) CUSTÓDIO, Jorge – “Património Mineiro”. In Estudos/ Património, nº8. Lisboa: IPPAR, 2005, pág. 151.

(36) Idem, ibidem, págs.151-152.

(37) BRANDÃO, José M. – “Património Mineiro Português: um filão a explorar”. In Actas do Seminário Arqueologia e Museologia Mineiras. Lisboa: Museu do Instituto Geológico e Mineiro, 1998, pág. 7.

Continua no próximo número do Região de Rio Maior

In Região de Rio Maior nº1181, de 27 de Maio de 2011

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