segunda-feira, maio 23, 2011

EICEL. Programa de Acção 2011 - 2014 (Parte 6)

(continuação do n.º1178, de 6 de Maio de 2011, pág 7)

1.2 – PROPOSTA DE RECUPERAÇÃO FASEADA E REUTILIZAÇÂO DA FÁBRICA DE BRIQUETES DA MINA DO ESPADANAL

1.2.1 – Enquadramento conceptual

A reutilização do património edificado não é uma prática recente. São muitos os exemplos de edifícios do passado que chegaram a nós em virtude da potencialidade demonstrada ao longo de séculos para a adaptação a novos usos, por vezes profundamente distintos da função original para a qual foram concebidos. Em Portugal encontramos um exemplo paradigmático de reutilização de edificado no Século XIX, com a extinção das ordens religiosas e a nacionalização dos seus bens, promulgada a 30 de Maio de 1834. A sorte do extenso património edificado que então passa ao domínio do Estado foi diversa, desde a venda a privados à afectação a funções públicas. Neste domínio registamos a conversão de muitos dos antigos conventos em quartéis militares ou hospitais, que se mantiveram em funções até à actualidade.

No concelho de Rio Maior encontramos um dos exemplos da extensa lista de imóveis nacionalizados: um antigo hospício de frades franciscanos arrábidos, com uma fábrica de buréis, que, com a criação do Município em 1836 (apenas dois anos após o decreto de extinção das ordens) passará a albergar os Paços do Concelho.

A conservação e reutilização de edifícios industriais é um fenómeno mais recente, que se afirma na segunda metade do Século XX, e adquire particular oportunidade desde a década de setenta no seio de um processo global de reestruturação industrial marcado pela deslocalização de empresas dos países industrializados para áreas em vias de desenvolvimento. Acompanhando transformações económicas e sociais que produziram o crescimento, neste período, de novas indústrias de serviços e da produção de Conhecimento, são diversos os exemplos bem sucedidos, nos últimos vinte anos, de novos usos instalados em antigas unidades industriais devolutas, integradas no espaço urbano, de entre os quais destacamos as reutilizações culturais e de lazer e a instalação de espaços de trabalho intelectual e criativo.

No entanto, nem sempre a reutilização tem correspondido a uma efectiva conservação dos valores históricos e arquitectónicos presentes nas antigas unidades industriais. A prática corrente revelou uma tendência para a destruição quase completa dos edifícios e manutenção restrita de elementos simbólicos com os quais se pretende preservar a memória e valorizar os novos empreendimentos. A complexidade de projecto e o aumento de custos decorrente da procura de estratégias de adaptação de espaços a novas funções, preservando a sua matriz genética, motiva promotores e técnicos à produção de soluções simplificadoras do problema, optando geralmente por uma abordagem fachadista, reveladora de um entendimento epidérmico da arquitectura.

A mais emblemática destas abordagens, que encontramos um pouco por todo o país, consiste na preservação de um elemento simbólico único: a chaminé. Horácio Capel registava, já em 1995, esta “curiosa fixação pela chaminé” (22), interrogando se os seus defensores seriam motivados “pelo reduzido espaço que ocupa, pela sua associação com a actividade industrial ou pelo seu espectacular carácter fálico” (23). José Manuel Cordeiro caracterizou este tipo de propostas, durante a I Jornada do Património Mineiro do Concelho de Rio Maior, em 2008, como “a tradução de um sentimento de má consciência, que procura compensar o acto de destruição do património” (24).























Fábrica Van Nelle, Roterdão, Holanda. Exemplo de recuperação integral e reutilização de antigo complexo industrial, edificado entre 1925 e 1931. Intervenção de restauro concebida pelo atelier Wessel de Jonge architecten e galardoada com o Prémio da União Europeia para o Património Cultural, Europa Nostra, de 2008 (Fotografia: Nuno Rocha, 2001)


Notas:

(22) CAPEL, Horácio – “La rehabilitación y el uso del património histórico industrial”. In Documents d’Anàlisis Geográfica nº29. Barcelona, 1996, pág.28.

(23) Idem, ibidem, pág.28.

(24) “I Jornada do Património Mineiro. Comunicações (parte 13)”. In Região de Rio Maior nº 1035. Rio Maior, 8 de Agosto de 2008.

Continua no próximo número do Região de Rio Maior

In Região de Rio Maior nº1179, de 13 de Maio de 2011

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