segunda-feira, setembro 17, 2012

MINAS E MINEIROS, OS IMPULSIONADORES DA CIDADE.

Por Flávia Frazão
Aluna de Comunicação Social da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes.


Grande parte das minas em Portugal fecharam após a 2ª Guerra Mundial (GM), a mina do Espadanal, em Rio Maior, subsistiu e hoje, passados mais de quarenta anos desde o seu encerramento, é um património abandonado mas com perspectivas de recuperação.
Esta mina teve origem e desenvolvimento durante duas grandes guerras do Século XX e manteve lavra activa durante cinco décadas, até 1969.

Datava-se o fim do ano de 1914 e as consequências da então iniciada 1ª GM chegavam a Portugal. A subida do preço dos combustíveis levou a que fossem tomadas medidas, com isto, António Custódio dos Santos, primeiro presidente da Câmara Municipal de Rio Maior após a revolução de 5 de Outubro de 1910, organiza uma sociedade para pesquisas de carvão. No ano seguinte obtém resultados e regista a primeira mina de lignite nas imediações da então vila de Rio Maior.

O primeiro poço de pesquisas na mina do Espadanal foi aberto em 1916 por Ayres Augusto Mesquita de Sá e pelo Padre Hymalaia. A 30 metros de profundidade foram encontrados cerca de 12 metros de camada de lignite.

Após saber desta notícia, Custódio dos Santos dirige-se à Câmara Municipal a fim de registar a “Mina de Lignite do Espadanal” e no ano seguinte são-lhe atribuídos os direitos de descoberta legal da mina.

A necessidade de aumento de capitais para a exploração mineira leva a que Custódio dos Santos e associados, em 1920, criem um nova organização industrial, a EICEL (Empresa Industrial Carbonífera e Electrotécnica, Limitada).

Entre os anos de 1925 e 1927 a produção de carvão em Rio Maior variava entre as 200 e 300 toneladas, mas surgia um problema, faltavam compradores para a matéria.

Nos anos seguintes a produção mineira no Espadanal cai para valores nulos, chegando-se a registar em 1930 uma produção de 25 toneladas.

O elevado custo do transporte ou a sua inexistência, foram problemas evidentes no escoamento da matéria, assim teriam de ser tomadas medidas para que se gastasse o produto armazenado. A solução passaria pelo reequipamento da lavra mineira e a criação de uma linha ferroviária.

No entanto, é já no decorrer da 2ª GM que o estado português é confrontado com a necessidade de desenvolver a produção de combustíveis fósseis.

Em 1942 é publicado o Decreto-lei que determina que as minas de Rio Maior terão de cumprir uma função de reserva de combustível nacional, sendo assim determinada a sua exploração em larga escala e a construção da via ferroviária para transporte da matéria.

Rio Maior tornou-se então numa importante reserva de abastecimento de combustíveis a Lisboa, devido à sua proximidade.

São inauguradas em 1945 três estruturas fundamentais do couto mineiro pelo novo director técnico, engenheiro Luís Falcão Mena. Nomeadamente: o plano inclinado de extracção, a primeira unidade de secagem da lignite e a tão aguardada via ferroviária.

Após a 2ª GM a necessidade de garantir a operacionalidade da Mina do Espadanal enquanto reserva de combustível para a região de Lisboa, obriga a empresa concessionária, com o apoio técnico e financeiro do Governo, a procurar uma solução para assegurar a viabilidade económica da lavra mineira. Assim, após estudos desenvolvidos entre 1946 e 1951, é tomada a opção pela instalação de uma Fábrica de Briquetes, que iniciará a sua actividade em 1955. É um investimento com uma forte aposta na inovação tecnológica no âmbito da extracção nacional de carvões e é a única com esta tecnologia em Portugal.

Na sequência dos avultados investimentos realizados desde a segunda guerra mundial, o estado transforma-se no principal accionista da empresa. Já na década de 60, perante o ressurgir das dificuldades de escoamento da produção nos mercados de combustíveis, é iniciado um processo de estudo para a implementação de uma Central Termoeléctrica nas imediações da vila de Rio Maior, que consumiria o carvão extraído na mina do Espadanal.

Esta acabou por não ser erguida por se considerar financeiramente inviável no quadro da entrada do país para a Comunidade Europeia. Para a cidade foi uma desvantagem, pois esta significaria a criação de cerca de 600 postos de trabalho.

A 5 de Julho de 1969 a exploração mineira é suspensa, são despedidos cerca de 160 operários e aos mesmos são atribuídas indemnizações, como relata o Sr. Marcelino Machado, antigo trabalhador da mina: “Foram todos indemnizados, eu recebi 7 contos de 15 anos de trabalho”.

A mina do Espadanal encerrou por deixar de ter viabilidade económica para exploração e não por esgotamento das suas reservas. “Nos últimos estudos previa-se que ainda houvesse exploração por mais 25 anos. Há reservas superiores a 20 milhões de toneladas que ainda lá estão”, refere o Sr. Marcelino. Acrescentando ainda: “Não é um capítulo encerrado a futura exploração da mina, caso se encontre uma forma economicamente rentável de exploração”.

A concessão mineira foi trespassada para a Companhia Portuguesa de Eletricidade em 1970.

Em 1999 a Câmara Municipal de Rio Maior adquire parcelas do Complexo Mineiro, não fazendo nada pela preservação do espaço e inicia um processo de demolição de algumas estruturas para libertar os terrenos para novas funções.


MUDANÇAS NA CIDADE:

Uma vila que em 1940 albergava cerca de 6760 habitantes sofreu uma ruptura na capacidade de alojamento e assistência social com a entrada de cerca de 1500 pessoas entre 1942 e 1945.

Constroem-se novas áreas residenciais e um posto escolar, promove-se a assistência na saúde com um posto médico e um centro de assistência infantil, criados pela EICEL.

A empresa cria também a “Cooperativa do Pessoal da EICEL”.

A nível cultural é introduzida uma cultura popular mineira, com a criação de uma orquestra folclórica, organização de eventos musicais e bailes, representação teatral e o clube de futebol: “Os Mineiros”.


VALORIZAÇÃO DO PATRIMÓNIO:

Em função da preservação da memória, consolida-se em 2005 o processo de estudo e salvaguarda do património mineiro riomaiorense, com o fim de sensibilizar os poderes políticos para a preservação do património.

No ano seguinte, o Instituto Português do Património Arquitectónico defende a classificação da Fábrica de Briquetes como Património de Interesse Municipal.

Em 2007 é constituído um movimento associativo para a defesa do Património Mineiro que dará origem à associação EICEL, cujo presidente é o arquitecto Nuno Rocha, que refere: “a designação adoptada pela associação constitui uma homenagem à empresa que marcou de forma decisiva o desenvolvimento de Rio Maior”.

Com esta, promoveu-se a mobilização da comunidade, a criação de redes sociais, o lançamento de uma proposta de classificação do conjunto edificado da mina do Espadanal e a divulgação do património junto da comunidade científica. 

A associação idealiza a recuperação faseada do complexo mineiro, propondo como primeira fase a instalação de um Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro do Concelho de Rio Maior. 


“OS MINEIROS”

Se hoje Rio Maior é a cidade do desporto muito deve aos mineiros, pois foram estes que implementaram a prática desportiva na cidade.

Começaram a jogar por entretenimento e acabam por participar em competições. A primeira competição foi no Campeonato Regional de Futebol, na Zona Centro.

Criaram a equipa a 1 de Setembro de 1945. Em Rio Maior, onde hoje é um espaço de diversão nocturna, antes foi a sede d’Os Mineiros.

A natação, ténis de mesa, atletismo e ciclismo também foram actividades desportivas promovidas por estes trabalhadores.

Em 1954 criaram uma Escola de Educação Física e Desporto.

Hoje, a equipa chama-se “União Desportiva de Rio Maior” e a cidade vive o desporto.



In Região de Rio Maior nº 1249, de 14 de Setembro de 2012.

1 comentário:

Lídia disse...

Boa tarde

Encontrei este blog por acaso!!!

E, vim dar uma volta, dado que se destina a um tema especifico, MINAS não será um blog a atualizar regularmente, mas é interessante!!!

Tenho um blog que aqui vou deixar o link que mostra muitas coisas do Ribatejo, incluindo Rio Maior, e até mais.... consigui falar das MINAS sem as ter conhecido, mas por nascer próximo da via férrea por onde passavam os comboios do carvão mineral, tenho até um conto relacionado com o comboio e o carvão!!!
Se for de interesse para vós, podem espreitar!!!
http://lidyhart.blogspot.pt/

Sou Ribatejana e é assim que mostro o meu Ribatejo!!!

Lídia Frade