sexta-feira, julho 22, 2011

MINA DO ESPADANAL: ESPÓLIO DO ENG.º LUÍS FALCÃO MENA DOADO AOS RIOMAIORENSES.

EICEL E LUÍS FERNANDO CORDEIRO FALCÃO MENA ASSINAM PROTOCOLO DE DOAÇÃO.

Figura 1 – Luís Abreu Falcão Mena em Cassinga, Angola, Novembro de 1964.
Dando continuidade a cooperação estabelecida, desde o ano de 2009, no âmbito do Processo de Estudo e Salvaguarda do Património Mineiro do Concelho de Rio Maior, coordenado pelo arquitecto Nuno Rocha, foi celebrado, no passado dia 5 de Julho, um protocolo de doação do espólio do engenheiro Luís Abreu Falcão Mena à EICEL, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, subscrito, em representação dos descendentes do antigo director-técnico da Mina do Espadanal, pelo Sr. Comandante Luís Fernando Cordeiro Falcão Mena, membro do Conselho Consultivo desta associação.

A colecção Luís Falcão Mena é composta por dois álbuns fotográficos, contendo um total de quatrocentos e trinta e quatro registos, documentando de forma exaustiva a evolução técnica do Couto Mineiro do Espadanal entre 1944 e 1954, sete cartões de identificação pessoal de Luís Falcão Mena, um gasómetro e um martelo de geólogo.

É objectivo da EICEL a conservação, exposição pública e integração do espólio doado no futuro Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro do Concelho de Rio Maior, cujo projecto vem sendo divulgado semanalmente nas páginas do Região de Rio Maior.

O Engenheiro Luís Abreu Falcão Mena deixou pela sua personalidade, iniciativa e competência uma marca de profundo significado na comunidade riomaiorense. Nas duas décadas em que exerceu as funções de director-técnico do Couto Mineiro do Espadanal (1944-1964), legou à então vila de Rio Maior uma marca indelével no território, perpetuada num dos nossos mais importantes monumentos históricos e arquitectónicos – a antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal – e uma marca social que não pode ser esquecida, com o seu esforço de criação de condições de assistência médica e social à comunidade mineira, cujos benefícios se estenderam a todos os riomaiorenses.

 

Luís Abreu Falcão Mena nasceu em Lisboa a 1 de Janeiro de 1917. Foi aluno do Colégio Militar entre 1929 e 1935, ingressando nesse ano no Instituto Superior Técnico. Enquanto aluno de engenharia, e com o início da Segunda Guerra Mundial, é chamado, em 1939, a cumprir o serviço militar, frequentando o Curso de Oficiais Milicianos na Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas.

Conclui em 1942 todas as cadeiras, tirocínios regulamentares, trabalhos de oficinas e laboratórios que constituem o curso de engenharia de minas, e participa em Março desse ano, em Retiro da Juventude Universitária Católica, nos Olivais. Casa a 6 de Outubro com Maria Helena Russel de Castro Ataíde Cordeiro e, no mês seguinte, é mobilizado como Alferes Miliciano de Artilharia para S. Vicente, Cabo Verde, no decurso da Guerra Mundial, permanecendo no arquipélago até Outubro de 1943.

A 13 de Dezembro de 1944 a EICEL propõe a sua nomeação para director técnico dos Coutos Mineiros do Espadanal, Quinta da Várzea e Rio Maior, que é aprovada pelo Conselho Superior de Minas. Fixa então residência em Rio Maior, em moradia alugada pela EICEL ao nº20 da Rua do Enxerto, actual Rua do Jornal O Riomaiorense. O Primeiro ano de funções de Luís Falcão Mena (1945) é marcado pela obtenção dos primeiros resultados concretos do esforço conjunto do Governo e da EICEL no reapetrechamento da lavra mineira para garantia do abastecimento de combustíveis à indústria da região de Lisboa durante o período de guerra. É inaugurado o plano inclinado de extracção da Mina do Espadanal, é aberta à circulação a via-férrea Rio Maior – Vale de Santarém e é concluída a unidade experimental de secagem de lignite, tipo Filiti.

Pela mão de Falcão Mena, a EICEL investe pela primeira vez na melhoria das condições de trabalho dos funcionários da empresa: é construído um posto de socorros devidamente equipado, adapta-se uma parte dos telheiros existentes no Espadanal a refeitório, erguem-se nove casas de madeira para vigilantes e capatazes e cria-se um posto escolar para filhos dos funcionários da empresa, fazendo face à impossibilidade de admissão de novos alunos na escola oficial da vila. Na sequência das graves dificuldades assistenciais geradas pelo afluxo de cerca de 1500 pessoas à vila de Rio Maior, entre funcionários admitidos à exploração mineira e respectivas famílias, Falcão Mena desenvolve uma colaboração activa com a Santa Casa da Misericórdia de Rio Maior, promovendo a construção de um Pavilhão de Isolamento no Hospital daquela instituição, com projecto executado pelos serviços técnicos da EICEL.

Desenvolvendo uma intensa acção cívica e social, o director técnico da Mina do Espadanal, apoia as iniciativas culturais e desportivas dos funcionários da empresa, com destaque para a criação do Clube de Futebol “Os Mineiros” (1945), do qual será Presidente da Assembleia-Geral. Em 1948 promove a criação da Cooperativa do Pessoal da EICEL, e a instalação de um Centro de Assistência Infantil (Lactário), inaugurado a 16 de Maio desse ano pelo Ministro do Interior Augusto Cancela de Abreu.

A acção meritória de Falcão Mena é reconhecida pela comunidade, com a nomeação, em Novembro de 1948, enquanto Presidente da Comissão Municipal de Assistência. Exercerá este cargo não remunerado até Fevereiro de 1952.

A década de cinquenta será marcada pelo período de maior desenvolvimento industrial do Couto Mineiro do Espadanal. Após longos estudos para a viabilização da lavra mineira de Rio Maior, a EICEL toma a decisão final pela instalação de uma unidade de secagem e briquetagem de lignite. Sob a direcção técnica de Luís Falcão Mena, e após viagem de estudo pela Europa Central, será elaborado o projecto das novas instalações industriais com equipamento fornecido pela fábrica alemã Buckau R. Wolf – apresentado em 21 de Novembro de 1951 ao Ministro da Economia, Ulisses Cortês, em visita à Mina do Espadanal. Procede-se entre 1952 e 1955 à renovação do plano inclinado de extracção e à edificação da fábrica de briquetes – o mais notável edifício na paisagem urbana da época, que se afirmará como imagem de marca da vila de Rio Maior, constituindo, ainda hoje o principal referencial urbano da cidade.

Seguir-se-ão alguns anos de uma lavra mineira estabilizada, prosseguindo o trabalho social de Falcão Mena. Em 1956 a EICEL adere, sob sua iniciativa, à campanha Nacional de Educação de Adultos, instituindo um curso para operários; em Maio de 1959 inaugura o Bairro Mineiro de Santa Bárbara, numa iniciativa particular apoiada por aval financeiro da EICEL; e em Novembro de 1962 inaugura a ampliação e reequipamento dos serviços médico-sociais da empresa.

A década de sessenta verá chegar um período de crise que resultará no encerramento da actividade mineira. Sucedem-se períodos de vários meses com ordenados em atraso. Em 1961, Luís Falcão Mena terá necessidade de acumular a direcção técnica das minas de Rio Maior com emprego enquanto Engenheiro Chefe de Serviços da Sociedade Comercial Romar, para fazer face à falta de pagamento do seu próprio ordenado.


Figura 2 – O Homem e a Obra. Luís Falcão Mena em frente da fábrica de briquetes, na fase de acabamentos, Outubro de 1954.












Perante a incompreensão das entidades responsáveis, Falcão Mena expõe, em 1964, a grave crise social gerada entre os funcionários da empresa mineira por meses de salários em atraso. Na sequência da falta de tomada de providências para resolução do problema, e perante convite para assumir a direcção técnica da Companhia Mineira do Lobito, em Angola, cessa a sua actividade na Mina do Espadanal.

Exerce, entre 1964 e 1975, as funções de Director Geral da Companhia Mineira do Lobito, na extracção (Cassinga – Jamba), transporte e exportação (Porto de Moçâmedes) de minério de ferro para o Japão e Alemanha. Após regresso à metrópole, funda e dirige entre 1976 e 1978, o Gabinete de Apoio Técnico às Autarquias, em Abrantes, e exerce entre 1978 e 1984 o cargo de Administrador da empresa Imobiliária ICOSAL, falecendo a 31 de Abril desse ano, em Lisboa, após doença prolongada.

Em Janeiro de 2010, no âmbito do processo de estudo e salvaguarda do património mineiro, foi apresentada à Câmara Municipal de Rio Maior proposta de atribuição do seu nome à rua de acesso à antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal – homenagem inteiramente merecida, mas que aguarda ainda decisão do executivo autárquico. E.

In Região de Rio Maior nº1188, de 15 de Julho de 2011

1 comentário:

vitorcenturioalmeida disse...

Manuel de Almeida capataz da Eicel, nr. 751, com toda a sua família, cujo agregado era constituído por 6 pessoas;foi morador no número 5 do Bairro Mineiro de Santa Bárbara;Onde haviam doze casas geminadas, que ainda hoje existem, numeradas de 1 a 12.
Cada casa rés-do-chão geminada, possuía três divisões e cozinha; no quintal havia uma casa de banho improvisada;
Em frente de cada casa havia uma pequena courela agrícola contígua à propriedade e onde eram semeados produtos hortícolas, por cada família de moradores mineiros a tempo inteiro.