quinta-feira, abril 28, 2011

MANOEL BARBOSA INTEGRA CONSELHO CONSULTIVO DA EICEL.

Prosseguindo o importante apoio concedido ao longo dos últimos quatro anos ao Processo de estudo e salvaguarda do património mineiro do concelho de Rio Maior, materializado em diferentes artigos de opinião, o pintor e performer riomaiorense Manoel Barbosa integra, desde o passado dia 1 de Abril, o Conselho Consultivo da EICEL, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico.

Manoel Barbosa vem defendendo, desde a década de setenta, a criação de um museu municipal e a projecção de Rio Maior enquanto território criativo através de uma aposta estratégica na cultura contemporânea e na identidade local. Reproduzimos opinião publicada no Região de Rio Maior, em Dezembro de 2010, sobre a possibilidade de recuperação da antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal:

"Não hesitaria em recuperar os edifícios, instalar a História da Mina e da Geologia concelhia e, colocar (!) de vez (!!) a cidade e o concelho (geoestrategicamente excelente) na rota das cada vez mais apetecidas “ofertas” da cultura contemporânea – artes cénicas, sonoras e visuais, exposições, etc. Garantidamente, tudo isso será (muito) viável, com custos mínimos ou suportáveis, se bem programado e protocolado com instituições e autores. Atrairá públicos, quiçá novos residentes (sentindo-se bem com “oferta” cultural...), revitalizará o comércio e a economia – não faltam exemplos, em Portugal, de pequenas e médias localidades exponenciadas e vivificadas pela cultura (!), que pode e deve gerar lucro! Naquela modelar arquitectura industrial post II G.Guerra, podem instalar o que quiserem!"

(Fotografia gentilmente cedida pelo Jornal Região de Rio Maior)

In Região de Rio Maior nº1176, de 22 de Abril de 2011

EICEL. Programa de Acção 2011-2014 (Parte 3)

(continuação do n.º1175, de 15 de Abril de 2011, pág 7)

1.1.1 – Proposta de criação de um Parque Geomineiro

Mário Barroqueiro (2006) analisa no plano académico a sustentabilidade de projectos de reabilitação e reconversão de antigos pólos de indústria mineira propondo como solução a criação de parques geomineiros (16), que define como “espaços situados em centros mineiros, onde se protege o património geológico e mineiro ali existente e onde são criadas infra-estruturas de forma a poderem ser visitados pelo público, sempre com objectivos lúdicos, didácticos e científicos” (17).

No caso do Couto Mineiro do Espadanal importava reflectir sobre a potencialidade do património existente para a criação de um espaço com estas características. O levantamento das evidências patrimoniais da extracção mineira de carvões em Rio Maior permitiu-nos concluir, não obstante a destruição operada na última década, pela existência de um património material e imaterial relevante e passível de salvaguarda e apresentação pública. A inexistência de qualquer passivo ambiental da exploração simplifica substancialmente a sua recuperação.

Evidencia-se a possibilidade de criação de áreas verdes lúdicas e didácticas de carácter urbano e florestal nos três antigos pólos da actividade técnica da mina (Espadanal, Bogalhos e Plano), interligadas por percursos pedonais, criando-se um modelo de preservação, recuperação e interpretação das estruturas existentes. Perante a destruição quase completa do pólo do Espadanal, avaliou-se um conjunto de funcionalidades complementares a instalar nos pólos de Plano e Bogalhos:

1. Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro, dotado de Centro de Documentação e Reservas, a instalar na antiga fábrica de briquetes.

2. Auditório e Sala de Exposições Temporárias, a instalar na antiga central eléctrica da fábrica de briquetes.

3. Centro de Ciência Viva dedicado à Indústria Mineira dos Carvões, a instalar na antiga Receita Exterior e Plano Inclinado de Extracção.

4. Unidade de turismo de habitação a instalar nas antigas residências de mineiros do pólo dos Bogalhos, mediante recuperação das estruturas existentes.

Destas propostas avulta uma dificuldade de base a ultrapassar: o elevado volume de investimento necessário para a recuperação de estruturas degradadas. Não nos parece ser este, no entanto, um critério fundamental para a avaliação da sustentabilidade do empreendimento, uma vez que, assegurada a salvaguarda do património existente, a sua recuperação deverá assentar num modelo faseado e prolongado no tempo, de acordo com as estratégias de financiamento possíveis.

A sustentabilidade de um projecto com estas características residirá sobretudo na sua capacidade de mobilização da comunidade local e da comunidade científica. Obtida uma consciência colectiva do valor do património mineiro riomaiorense, impõe-se a concertação de esforços para a sua recuperação, através do estabelecimento de protocolos de cooperação entre o Movimento Associativo local e nacional, a Autarquia, Instituições de Investigação Científica e Ensino Superior e entidades privadas.

Neste plano defendemos o estabelecimento de uma estrutura ao serviço da comunidade (18), aberta à participação de todos os interessados e em particular da comunidade educativa local, constituindo suporte para projectos diversificados de intervenção cultural e científica. Numa cidade que revela total carência de estruturas museológicas e arquivísticas, a recuperação e reutilização do património mineiro deverá permitir a constituição de um núcleo por excelência para o estudo e divulgação do património histórico, natural e cultural riomaiorense.


















Conjunto de 8 casas em banda construídas pela EICEL em 1946 nas imediações da secção dos Bogalhos e da mina de diatomite do Abum. Estado de conservação em Março de 2010.

Notas:
(16) O conceito de Parque Geológico e Mineiro foi defendido em 2001 por Josep Mata-Perelló no II Seminário Recursos Geológicos, Ambiente e Ordenamento do Território, realizado em Vila Real. Ver: MATA-PERELLÓ, J., et. al. – “Los parques geológicos y mineros: uma alternativa a la degradación de las antiguas área mineras”. In Actas do II Seminário Recursos Geológicos, Ambiente e Ordenamento do Território. Vila Real: UTAD, 2001, pp. 15-25.

(17) BARROQUEIRO, Mário – O declínio de centros mineiros tradicionais no contexto de uma geografia industrial em mudança. Dissertação de Mestrado em Geografia Humana e Planeamento Regional e Local, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa sob a orientação do Prof. Dr. Mário Vale, Lisboa, 2005. Exemplar policopiado, pág. 164.

(18) “O museu é uma instituição ao serviço da sociedade, da qual é parte integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na formação da consciência das comunidades que ele serve.” Declaração de Santiago. Mesa-Redonda de Santiago do Chile – ICOM, 1972. Disponível na internet via: http://www.museologia-portugal.net/

Continua no próximo número do Região de Rio Maior

In Região de Rio Maior nº1176, de 22 de Abril de 2011

quinta-feira, abril 21, 2011

PATRIMÓNIO MÓVEL DA ANTIGA MINA DO ESPADANAL

EICEL ASSINA PROTOCOLOS DE COLABORAÇÃO COM JORGE MONTEIRO E FERNANDO PIEDADE.

Prosseguindo cooperação estabelecida no âmbito do Processo de estudo e salvaguarda do património mineiro do concelho de Rio Maior, a EICEL, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico celebrou, no passado dia 31 de Março, protocolos de colaboração com Jorge Alexandre Carvalho Monteiro e Fernando Conceição Piedade, tendo como objectivo a conservação e exposição pública de património móvel originário do antigo Couto Mineiro do Espadanal.


Foi doada por Jorge Monteiro uma planta do traçado da Estrada Nacional n.º 114, entre Boiças e S. João da Ribeira, pertencente ao arquivo da antiga Empresa Industrial, Carbonífera e Electrotécnica, Limitada, dispersado em parte na posse de privados no final da década de noventa, e cuja recuperação constitui objectivo da EICEL, com vista à futura criação de um Centro de Documentação.

Por Fernando Piedade foi doado um conjunto de peças recuperadas da antiga exploração mineira, compreendendo uma Caixa de Ponto, um briquete de lignite produzido na antiga fábrica de briquetes do engenheiro Gregori Filitti, uma picareta, um metro articulado das antigas oficinas de carpintaria, uma tenaz, uma roldana de cabo de aço, duas lancheiras utilizadas por mineiros, dois tubos de ensaio do laboratório, um estojo de metal para seringas e uma balança originários do antigo posto médico da empresa.

A EICEL prevê a exposição ao público do espólio que vem sendo reunido, no âmbito de actividades de divulgação e valorização do património mineiro do concelho de Rio Maior a organizar no decurso do ano de 2011.

Figura 1: Caixa de ponto da EICEL; figura 2: Extracto de planta do traçado da Estrada Nacional nº114, entre Boiças e S. João da Ribeira, pertencente ao arquivo EICEL; figura 3: Picareta.

In Região de Rio Maior nº1175, de 15 de Abril de 2011

EICEL. Programa de Acção 2011-2014 (Parte 2)

(continuação do n.º 1174, de 8 de Abril de 2011, pág. 7)

Localizada a 80 km (50 minutos) de uma capital europeia (Lisboa) e servida de boas acessibilidades, a cidade de Rio Maior constitui o ponto focal de um território caracterizado por uma relevante diversidade de eventos geológicos, destacando-se o Maciço Calcário Estremenho, o Vale Tifónico e as Salinas da Fonte da Bica, o afloramento basáltico prismático de Alcobertas, a bacia de lignites e diatomites do Espadanal marcada por significativo património mineiro, e os importantes depósitos de areias de sílica ainda em exploração.

Adivinha-se o potencial de criação de uma estratégia de valorização territorial assente no património geológico e mineiro – produto turístico apetecível pela sua diversidade paisagística, valor histórico e científico, acessibilidade e posicionamento geográfico, produzindo uma oferta profundamente firmada no território e abrindo perspectivas à exploração de vertentes complementares de turismo geomineiro, turismo cultural e turismo de habitação.

O interesse por este património natural, histórico e tecnológico ultrapassou já largamente um tradicional círculo de grupos socioprofissionais específicos (5), estendendo-se a um público cada vez mais alargado. Como reconhece Álvaro Domingues (2000), “o alargamento da escolarização, a renovação das metodologias pedagógicas (aprender vendo e fazendo), o interesse pela ciência e tecnologia, criaram públicos jovens ávidos por centros, cidades, museus… de ciência e tecnologia, onde a museologia industrial encontra um território fértil” (6).

O Programa Nacional de Ciência Viva constitui o mais destacado exemplo da concretização prática desta tendência em Portugal. Criado em 1996 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, compete a este programa “o apoio a acções dirigidas para a promoção da educação científica e tecnológica na sociedade portuguesa, com especial ênfase nas camadas mais jovens e na população escolar dos ensinos básico e secundário” (7).

A Ciência Viva desenvolve-se em três vertentes:

1. Ciência Viva nas Escolas, através de um “programa de apoio ao ensino experimental das ciências e à promoção da educação científica na escola” (8).

2. A Rede Nacional de Centros Ciência Viva, “concebidos como espaços interactivos de divulgação científica para a população” (9), constituindo “plataformas de desenvolvimento regional – científico, cultural e económico – através da dinamização dos actores regionais mais activos nestas áreas” (10).

3. Divulgação Científica e Tecnológica, através de “campanhas nacionais de divulgação científica, estimulando o associativismo científico e proporcionando à população oportunidades de observação de índole científica e de contacto directo e pessoal com especialistas em diferentes áreas do saber” (11).

O estabelecimento de uma rede de Centros de Ciência Viva em todo o território nacional vem sendo realizado com o apoio de universidades, autarquias, empresas e outros agentes de desenvolvimento regional, constituindo os lugares por excelência da aproximação dos cidadãos à ciência e ao património científico e tecnológico.

A Rede Nacional de Centros Ciência Viva é actualmente composta por 19 Centros distribuídos peloterritório continental e ilhas (12). O sucesso é mensurável nos números de visitantes registados, de entre os quais se destaca o Pavilhão do Conhecimento (13), em Lisboa, com 2.572.373 visitantes (uma média diária de 800 visitantes) desde a sua abertura até ao final de Dezembro de 2009. Importa, no entanto, retermos o exemplo mais próximo da realidade do concelho de Rio Maior: o Centro de Ciência Viva do Alviela (14), em Alcanena, inaugurado a 15 de Dezembro de 2007, que registou desde então, e até Julho de 2010, mais de 48.700 visitantes (uma média diária de 300 visitantes).

O primeiro Centro de Ciência Viva dedicado à actividade mineira foi oficialmente inaugurado a 29 de Junho de 2010 nas Minas do Lousal (15), concelho de Grândola, concretizando um investimento de 2.500.000€, num projecto participado pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, pela Faculdade de Ciências e o Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa, pela Câmara Municipal de Grândola e pela Fundação Frédéric Velge, proprietária da antiga exploração mineira.

O projecto de recuperação e reutilização da antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal oferece, pela relevância histórica e tecnológica do património existente, um quadro de oportunidade para o estudo de futura instalação de um Centro de Ciência Viva dedicado à indústria mineira dos carvões. Uma primeira etapa neste percurso se antevê, no entanto, necessária: a reinstalação do património mineiro no quadro de vida da cidade de Rio Maior e a sua divulgação junto das comunidades escolar e científica e do público em geral. Com esse objectivo propomos o desenvolvimento de duas iniciativas coordenadas: a criação de um Parque Geomineiro nas antigas parcelas do Couto Mineiro do Espadanal e o estabelecimento de parcerias nacionais e internacionais para a sua promoção.

Notas:
(5) BRANDÃO, J.M. – “Recuperação e fruição de uma herança patrimonial comum”. In Actas do Congresso Internacional sobre Património Geológico e Mineiro. Lisboa: Museu do Instituto Geológico e Mineiro, 2002, pág. 7.

(6) DOMINGUES, Álvaro – “Museologia Industrial – O que está a mudar?”. In 1º Encontro Internacional sobre Património e sua Museologia. Comunicações. Lisboa: EPAL, 2000, pp.7-10.

(7) “Ciência Viva – A Agência Ciência Viva”. Disponível na internet via: http://www.cienciaviva.pt/cienciaviva/agencia.asp

(8) “Ciência Viva – O Programa”. Disponível na internet via: http://www.cienciaviva.pt/cienciaviva/programa/

(9) Idem, ibidem.

(10) Idem, ibidem.

(11) Idem, ibidem.

(12) Página Web da Rede Nacional de Centros Ciência Viva. Disponível na internet via: http://www.centroscienciaviva.pt/

(13) Dados disponíveis na página Web do Pavilhão do Conhecimento. Disponível na internet via: http://www.pavconhecimento.pt/pavilhao/n_visitantes/

(14) Dados disponíveis na página Web do Centro de Ciência Viva do Alviela. Disponível na internet via: http://www.alviela.cienciaviva.pt/centro/visitantes/

(15) Página Web do Centro de Ciência Viva do Lousal. Disponível na internet via: http://www.lousal.cienciaviva.pt/

(Continua no próximo número do Região de Rio Maior)

In Região de Rio Maior nº1175, de 15 de Abril de 2011

sexta-feira, abril 15, 2011

EICEL PARTICIPOU NO 1º ENCONTRO EM ESPAÇOS MINEIROS, EM S. PEDRO DA COVA (GONDOMAR).

No passado dia 26 de Março, a EICEL – Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, representada por Nuno Alexandre Rocha, António Vieira de Carvalho, João Verde da Costa e Marcelino Pedro Machado, marcou presença no primeiro “Encontro em Espaços Mineiros”, organizado em S. Pedro da Cova pela Secção de Minas da Associação Portuguesa para o Património Industrial (Geomin-APPI), entidade coordenada por Mário Barroqueiro (presidente da Mesa da Assembleia Geral da EICEL), em colaboração com a Junta de Freguesia e o Museu Mineiro daquela localidade.

Este evento, centrado na história da exploração de carvão nas Minas de S. Pedro da Cova, nas suas vertentes económica, patrimonial e humana, focalizando-se sobretudo, na problemática decorrente do seu encerramento em 1970, com a imediata venda de equipamentos e materiais, que originaram uma significativa destruição patrimonial; e no trabalho realizado desde 1989 para a salvaguarda e recuperação museológica do património material e imaterial sobrevivente, contou com visita guiada ao museu e ao que resta do complexo industrial mineiro, com o visionamento de filme realizado por Rui Simões em 1976, e com a apresentação de palestras.

A salvaguarda do património mineiro tem sido assumida pelas entidades públicas de S. Pedro da Cova e Gondomar como um importante factor de valorização da memória histórica da comunidade, e um catalisador para a promoção do desenvolvimento económico, cultural e turístico da região. Neste sentido, a Junta de Freguesia adquiriu um edifício, a “Casa da Malta”, que albergava operários oriundos de outras regiões do país, e transformou-o em Museu Mineiro, constituindo com o restante complexo um percurso museológico integrado no “Roteiro das minas e pontos de interesse mineiro e geológico de Portugal”. Há cerca de um ano, um elemento icónico deste complexo, o Poço de S. Vicente, foi declarado Património de Interesse Municipal, e actualmente, a Câmara Municipal de Gondomar tem já aprovado um plano de requalificação de todo aquele espaço.

Como corolário deste encontro, a Geomin-APPI elaborará um memorando com propostas e sugestões de melhoria para a intervenção no património mineiro de S. Pedro da Cova. Rio Maior acolherá um próximo “Encontro em Espaços Mineiros”, prosseguindo, no âmbito dos objectivos de actuação da EICEL, a inserção e divulgação do património mineiro riomaiorense numa rede nacional de espaços mineiros. E.

In Região de Rio Maior nº1174, de 8 de Abril de 2011

EICEL. Programa de Acção 2011-2014 (Parte 1)

O documento cuja publicação se inicia contém textos integrantes de Dissertação de Mestrado submetida pelo autor ao Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa sob o título Couto Mineiro do Espadanal (Rio Maior). História, Património, Identidade.



















Enquadramento da fábrica de briquetes da Mina do Espadanal no tecido urbano da cidade de Rio Maior. Abril de 2008


EICEL – PROGRAMA DE ACÇÃO PARA O QUADRIÉNIO 2011 – 2014

1 – ESTUDOS PARA A CONSTITUIÇÃO DE NÚCLEO MUSEOLÓGICO MINEIRO. PROPOSTA DE RECUPERAÇÃO FASEADA E REUTILIZAÇÂO DA FÁBRICA DE BRIQUETES DA MINA DO ESPADANAL.

1.1 – REINSTALAÇÃO DO PATRIMÓNIO MINEIRO NO QUADRO DE VIDA DA COMUNIDADE RIOMAIORENSE

Um dos grandes desafios resulta de se tratar de um património em risco de desaparecer e sem uso actual. E aqui a questão central será como utilizá-lo e colocá-lo ao serviço do desenvolvimento, envolvendo as populações locais. Importa, neste contexto identificar e inventariar recursos (naturais e culturais) e (re)activar memórias e identidades. Depois, se se mostrar viável, transformá-los em produto de consumo, por via de estratégias de turismo cultural e através disso pensar quais as melhores formas de gestão, de protecção e de valorização” (1).

A cidade enquanto espaço de Conhecimento é, como de forma inspiradora a expõe João B. Serra (2010), uma cidade “que tira partido das raízes, da memória genética, que a desenvolve, que inova, que refaz os desígnios e alicia os protagonistas para a sua partilha” (2). É assim uma cidade democrática e participada – “dinâmica, porque reflecte, é reflexiva não é um puro reflexo” (3) – uma cidade que se recusa a ser mera reprodução mimética e extensível de modelos rentáveis de ocupação de solo, que “repudia a indiferença e a resignação, não se importa de correr riscos, de perturbar, de acrescentar, de ousar, de marcar presença” (4).

A persistência no espaço urbano de lugares de memória onde é possível ainda tocar o tempo histórico da construção das comunidades constitui uma oportunidade de reflexão sobre os processos de edificação da cidade contemporânea. Neste contexto, o património Industrial – um dos mais eloquentes testemunhos da aceleração de processos de transformação da humanidade desde o final do século XVIII – detém em si um valor universal que vem merecendo o reconhecimento generalizado pela comunidade científica internacional. Lugares da concretização de um esforço anónimo de gerações, a sua preservação é mais que a simples reutilização de velhos edifícios – é assegurar um futuro à evidência material da esperança e empenho de homens e mulheres comuns – é manter vivo o espírito de um tempo de construção de audaciosos monumentos de trabalho.

Herança recente e distante das concepções tradicionais de património cultural, uma paisagem industrial silenciada pelos processos de transformação económica e tecnológica das últimas décadas, aguarda a resolução do complexo desafio da sua reintrodução significante no quadro de vida das comunidades. Presenças expectantes, exteriores ao tecido produtivo, rentável, das cidades, os desafectados complexos industriais enfrentam riscos de destruição total ou parcial que apenas uma abordagem assente num profundo conhecimento das suas potencialidades, materializada na produção de sólidas propostas de adaptação e reutilização, poderá evitar.

A criação de museus e espaços dedicados à ciência e cultura, capitalizando o potencial de conhecimento técnico e científico presente na antiga actividade industrial junto de um público em crescimento pelo aumento da escolaridade e pelo potencial de atractividade de metodologias participativas de aquisição de conhecimento, vem constituindo uma abordagem de sucesso em diferentes países europeus.

Os antigos edifícios industriais poderão assumir-se enquanto lugares reabitados de uma nova indústria – lugares de valorização e transformação de uma mais valiosa matéria-prima: as ideias e os valores das comunidades humanas.

Notas:

(1) BARROQUEIRO, Mário – O declínio de centros mineiros tradicionais no contexto de uma geografia industrial em mudança. Dissertação de Mestrado em Geografia Humana e Planeamento Regional e Local, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa sob a orientação do Prof. Dr. Mário Vale, Lisboa, 2005. Exemplar policopiado, pp. 173-174.

(2) SERRA, João Bonifácio – “Manifesto pela Cidade Imaginária”. In O que eu andei… Disponível na internet via: http://oqueeuandei.blogspot.com/2010/06/manifesto-pela-cidade-imaginaria.html

(3) Idem, ibidem.

(4) Idem, ibidem.

(Continua no próximo número do Região de Rio Maior)

In Região de Rio Maior nº1174, de 8 de Abril de 2011

sexta-feira, abril 08, 2011

EICEL. Programa de Acção 2011-2014 (apresentação)

Levantamento arquitectónico da fábrica de briquetes da mina do Espadanal. Desenho n.º 11. Nuno Alexandre Rocha. Arq.

Após a criação da EICEL, a 29 de Novembro de 2010, e na sequência da eleição dos primeiros corpos dirigentes, em Assembleia-Geral realizada a 15 de Janeiro do corrente ano, foi aprovado por unanimidade o Programa de Acção desta associação de defesa do património para o quadriénio 2011-2014.

O documento aprovado estabelece como objectivo o desenvolvimento coerente do Processo de estudo e salvaguarda do património mineiro do concelho de Rio Maior dando sequência aos estudos consolidados na Dissertação de Mestrado “Couto Mineiro do Espadanal (Rio Maior). História, Património, Identidade” submetida pelo Presidente da Direcção, arquitecto Nuno Rocha, ao Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na qual se produz uma leitura detalhada da história e do universo patrimonial subsistente, seu estado de conservação e potencialidade de reutilização apresentando propostas para a sua reintegração na vivência urbana da nossa cidade.

Criada e desenvolvida, nos últimos cinco anos, uma ampla consciência cívica do valor da história e do património mineiro riomaiorense, reunida a antiga comunidade mineira em torno de um projecto de recuperação, bem como obtido o seu reconhecimento pela comunidade científica, importa estabelecer no terreno uma metodologia sustentada de intervenção. Analisado o elevado investimento necessário à implementação de uma solução de restauro global, numa época marcada por notórias dificuldades de financiamento e em final de ciclo dos Quadros Comunitários de Apoio, verifica-se a improbabilidade, no curto prazo, de uma recuperação executada unicamente a expensas do Município.

Neste contexto, a EICEL apresenta uma proposta de intervenção faseada, numa estreita cooperação entre a autarquia, o movimento associativo, instituições de ensino superior e entidades privadas vocacionadas para o apoio a projectos culturais no âmbito do mecenato.

Tendo como objectivo a divulgação das propostas da EICEL à comunidade e a promoção de um debate profícuo sobre as soluções apresentadas – abertas a uma desejável valorização através do contributo dos riomaiorenses – terá início no próximo número do Região de Rio Maior a publicação semanal do Programa de Acção.
























Levantamento arquitectónico da fábrica de briquetes da mina do Espadanal. Desenho n.º 6. Nuno Alexandre Rocha. Arq.


(Continua no próximo número do Região de Rio Maior)

In Região de Rio Maior nº1173, de 1 de Abril de 2011