
PARECER SOBRE A IMPORTÂNCIA PATRIMONIAL E SALVAGUARDA DO PATRIMÓNIO MINEIRO E INDUSTRIAL, EM RIO MAIOR.
II. Mina (continuação)
1.2 Evidências Patrimoniais.

In Região de Rio Maior nº968, de 27 de Abril de 2007
No âmbito de um programa de sensibilização da comunidade e dos órgãos de decisão locais para o valor patrimonial do Conjunto Edificado da Mina de Lignite do Espadanal, a Comissão para o Estudo, Defesa e Valorização do Património Cultural e Natural do Concelho de Rio Maior desenvolveu nos meses de Janeiro e Fevereiro um trabalho conjunto com diferentes entidades. Destaca-se a deslocação a Rio Maior dos representantes do Comité Internacional para a Conservação do Património Industrial e da Sociedade Espanhola de Defesa do Património Geológico e Mineiro, com a subsequente emissão de pareceres sobre o valor do património mineiro riomaiorense, a publicar em breve.
É no entanto de destacar sobretudo, o estabelecimento de uma cooperação cívica com a Câmara Municipal de Rio Maior, resultando até ao momento na realização de duas reuniões tendo em vista a análise da necessidade de preservação integral de um património definidor da identidade local.
Oportunidade clara para a presente Comissão debater com a entidade sobre quem recai a tarefa de defender o património local, a grave contradição que resultaria de uma possível promoção da sua descaracterização irreversível.
Neste ponto é necessário tornar claro que de acordo com os princípios internacionalmente aceites de preservação patrimonial, expressos na Carta de Veneza de 1964 e renovados pela Carta de Cracóvia de 2000, a manutenção sugerida pela autarquia de apenas dois fragmentos – a chaminé e o plano inclinado – redundaria na destruição do valor patrimonial do conjunto.
Prosseguindo ainda no espírito das cartas internacionais citamos o artigo 6º da Carta de Cracóvia: “O objectivo da conservação de edifícios históricos e monumentos, estando estes em contextos rurais ou urbanos, é o de manter a sua autenticidade e integridade, incluindo os espaços interiores, o mobiliário e a decoração, de acordo com a sua configuração original. Tal conservação requer um projecto de restauro apropriado, que defina os métodos e os objectivos. Em muitos casos, requer-se ainda um uso apropriado, compatível com o espaço e significado existentes. As obras em edifícios históricos devem prestar total atenção a todos os períodos históricos em presença.”
Informada por tais princípios e por um extenso volume de conhecimento produzido sobre o período mineiro riomaiorense e o seu património edificado, a Comissão apresentou à autarquia local, nas reuniões realizadas a 23 e 24 de Janeiro, diferentes propostas para uma adequada refuncionalização do complexo do Espadanal, que certamente merecerão ainda uma resposta consentânea.
Evidencia-se a proposta de criação de um Espaço Cultural Polivalente albergando um Museu Regional, Arquivo Municipal e Centro de Estudos, um pólo museológico da actividade mineira e centro interpretativo da importante e continuamente estudada geologia do concelho.
Perante a dificuldade funcional dos serviços culturais da autarquia, remetidos a uma contínua dispersão por espaços desadequados e permanentemente temporários – em face de um extenso acervo documental da história concelhia, bem como de uma vasta reserva de achados arqueológicos, dispersos por décadas de insuficiente acção cultural surge inquestionável a necessidade de criação a curto prazo das estruturas para uma potenciação definitiva da produção local de Conhecimento.
O Conjunto Edificado das Minas do Espadanal, propriedade municipal devoluta e facilmente adaptável às funções propostas, assumir-se-á assim enquanto invólucro e símbolo de uma acção esclarecida de capitalização das especificidades locais, na recusa de cedência a uma via de predatória especulação imobiliária.
Em face das propostas apresentadas e da existência de um valor empírico para as obras de recuperação, apresentado pela autarquia, não fundamentado em estudos adequados, foi sugerida pela Comissão a solicitação à Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais de elaboração de uma Carta de Risco do Património Mineiro, documento que permitirá uma análise detalhada do estado de conservação do conjunto edificado e consequente definição, sob os mais rigorosos métodos, das intervenções a realizar para sua recuperação.
CENTENAS DE RIOMAIORENSES SUBSCREVEM DEFESA DO PATRIMÓNIO MINEIRO
Em simultâneo a Comissão propõe-se iniciar a publicação na imprensa local dos pareceres técnicos emitidos na sequência do processo de estudo e salvaguarda delineado e executado por um dos seus membros fundadores durante o ano de 2006. Neste sentido foi solicitada e obtida a concordância da Junta de Freguesia de Rio Maior, subscritora oficial do trabalho realizado junto do Instituto Português do Património Arquitectónico.
O Parecer sobre a Importância Patrimonial e Salvaguarda do Património Mineiro e Industrial, em Rio Maior, foi emitido e subscrito pela Presidência do IPPAR, a 5 de Julho de 2006 na sequencia de processo de estudo do património arquitectónico concelhio e no capítulo específico do Património Industrial, apresentado à Câmara Municipal de Rio Maior em Fevereiro do mesmo ano e desenvolvido em estreita comunicação com os serviços técnicos da autarquia.
Compreendendo a análise de duas edificações incontornáveis no processo de industrialização local ao longo do séc. XX e elaborado com base em extenso volume de documentação, após visita ao local no dia 4 de Abril de 2006, pela Dr.ª Deolinda Folgado, investigadora responsável por alguns dos mais importantes trabalhos em curso na área de estudo do Património Industrial – este documento, tecnicamente exemplar, sintetiza um corpo de princípios de actuação informado por uma internacionalmente consolidada produção de conhecimento na área dos estudos de património.
O documento que em seguida se apresenta assume-se como um dos mais importantes contributos para um reconhecimento do valor inestimável do Património Mineiro e Industrial Riomaiorense, definindo a necessidade de Classificação enquanto Património de Interesse Municipal e propondo em simultâneo a realização de plano de pormenor contemplando um programa de refuncionalização adequado ao valor histórico e arquitectónico do local.