QUADRO Nº4. PATRIMÓNIO INTANGÍVEL: A MEMÓRIA COLECTIVA.
Não menos importante que o património material, edificado, um outro legado persiste – marca sensível no tecido social da contemporaneidade riomaiorense.
Não menos importante que o património material, edificado, um outro legado persiste – marca sensível no tecido social da contemporaneidade riomaiorense.
O período mineiro operou na comunidade local a transição de uma ruralidade ancestral para um paradigma de modernidade industrial – transformação que tem como evidência simbólica a concretização de um sonho acalentado desde o final do século XIX: a construção da via-férrea Rio Maior – Vale de Santarém.
O aumento da actividade nas minas de lignite, em resposta às directivas inscritas no Decreto-Lei nº 32270 de 19 de Setembro de 1942, resulta num afluxo de cerca de 1500 pessoas, entre operários admitidos à exploração mineira e respectivas famílias, a uma vila de Rio Maior que em 1940 contava com uma população de apenas 6760 habitantes, provocando no imediato a ruptura da capacidade local de alojamento e assistência social.
A comunidade que nestes anos se fixa em Rio Maior traz consigo a renovação da capacidade produtiva das Minas do Espadanal, com um resultado económico mensurável numa actividade ininterrupta em condições precárias, e simultaneamente introduz mudanças de consequências mais duradouras, perceptíveis na valorização de um capital humano que soube erguer com o seu trabalho anónimo os fundamentos da cidade actual.
A empresa concessionária e as entidades locais desenvolverão ao longo das décadas de 40, 50 e 60 um conjunto de medidas de integração e melhoramento das condições de vida da comunidade mineira, procurando resolver o problema da habitação com a edificação de novas áreas residenciais e dinamizando a actividade social, cultural e desportiva com a criação de estruturas associativas que terão um papel central na promoção de um período de intensa participação cívica dos riomaiorenses.
O quotidiano rural da vila de Rio Maior é desta forma transformado com o surgimento de diferentes colectividades. No plano cultural destaca-se pela promoção da representação teatral, o Grupo Cénico Zé P’reira, fundado ainda em 1941, e que não será indiferente à nova realidade social levando ao palco peças de inspiração mineira, com particular sucesso na opereta apresentada em 1945: “E o sonho foi realidade…”, descrita pela imprensa local como uma “apologia da vida dos mineiros”.
Em 1952 é fundado o Cineclube de Rio Maior, um dos pioneiros do movimento cineclubista nacional, que promove sessões mensais de cinema, a edição de publicações dedicadas à 7ª Arte, a realização de filmes e jornais de actualidades (entre os quais o pequeno filme da Festa de Santa Bárbara, patente na exposição da presente jornada), salões de fotografia e concursos nacionais de cinema de amadores.
No ano de 1956 surge o Círculo Cultural de Rio Maior com o seu Grupo Coral e Orquestra Típica que tem como primeiro regente o Maestro António Gavino, funcionário da empresa mineira.
No capítulo desportivo, é fundado em 1945 o Clube de Futebol “Os Mineiros”, colectividade determinante na promoção da prática desportiva local, que representa o concelho nos campeonatos regionais e nacionais, desenvolvendo em simultâneo uma intensa actividade cultural na sua sede. Na década de 70, após o encerramento da extracção mineira, o clube mudará de designação, dando origem ao União Desportiva de Rio Maior.
Na plano social, a EICEL promove, através da acção meritória do seu director-técnico Engº Luís de Abreu Falcão Mena, a criação de um Centro de Assistência Infantil (1947), de uma Cooperativa de Pessoal da empresa (1948), de uma Escola para formação de operários (1956), em adesão à Campanha Nacional de Educação de Adultos, e desenvolve a assistência na saúde em posto médico próprio, renovado em 1962.
Festa de Santa Bárbara, na década de 50. Registo em filme por António Feliciano Jr.
(continua)
COMISSÃO PARA A DEFESA DO PATRIMÓNIO CULTURAL DO CONCELHO DE RIO MAIOR in Região de Rio Maior nº1029, de Sexta-feira 27 de Junho de 2008
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