sábado, abril 19, 2008

I Jornada do Património Mineiro, na Imprensa Local. Região de Rio Maior

I Jornada do Património Mineiro

Há boas hipóteses de requalificar a Mina do Espadanal.

No sábado, 12 de Abril, no auditório da Biblioteca Municipal Laureano Santos decorreu a Sessão Pública da I Jornada do Património Mineiro. Esta jornada teve como objectivos falar da história e do património das Minas do Espadanal, o papel da política e da cidadania no património local e a recuperação dos espaços industriais e contou também com uma exposição de fotografia e da história do património mineiro.

Na sessão de abertura estiveram presentes João Afonso Calado da Maia, José Manuel Brandão, sócio fundador da GEOMIN e membro da Junta Directiva da Sociedade Espanhola para a Defesa do Património Geológico e Mineiro; o arquitecto Nuno Rocha, impulsionador da Comissão para a Defesa do Património Cultural do Concelho de Rio Maior; Jorge Manuel Mangorrinha, membro do Conselho Nacional de Delegados da Ordem dos Arquitectos e José Manuel Cordeiro, presidente da APPI - Associação Portuguesa de Património Industrial e representante em Portugal do Comité Internacional para a Conservação do Património Industrial da UNESCO.

José Manuel Brandão referiu três momentos chave no processo das Minas do Espadanal: a actividade industrial exercida e que teve vários impactos na população e no território físico de Rio Maior; o período de vazio, entre o encerramento da mina e o presente em que as autarquias não conseguiram acompanhar os edifícios e infraestruturá-los e o século XXI, em que começa a despertar o interesse por aquilo que se há-de fazer naquele espaço, e é essa a fase em que Rio Maior se encontra agora.

Nuno Rocha passou então a apresentar um excerto da históra das minas, que surgiram e se desenvolveram em dois contextos de crise nacionais e mundiais: as duas grandes guerras. A mina foi registada em 1916 e principalmente entre 1920 e 1942 dá-se a sua exploração. Em 1945 inaugura-se a linha férrea que ligava Rio Maior ao Vale de Santarém. Terminada a guerra suge a questão: "o que fazer com aquele investimento económico e social?" Foi então instalada provisoriamente uma fábrica de secagem da Lignite e em 1950 o Ministério da Econmia autorizou a construção de uma Central Termoeléctrica mas como a empresa já não tinha capacidade, o Estado acabou por não financiar o projecto e a Central viria a ser instalada no Pego. No ano a seguir optou-se pela instalação da Fábrica de Briquetes que foi inaugurada quatro anos mais tarde e que era de uma tecnologia singular em território nacional. Nuno Rocha apresentou também os vários contextos da mina: o contexto urbano, com a apresentação de bairros mineiros e não-mineiros - que tinham como objectivo melhorar as condições de alojamento; o contexto do couto mineiro, que era muitas vezes maior que a pequena vila de Rio Maior da época. O couto mineiro tinha vários pólos: um posto médico, bairro residencial de mineiros e explorações. Foi apresentada a memória colectiva e o impacto social e cultural que foi decisivo na comunidade riomaiorense. Entre 1916 e 1969 Rio Maior foi sujeito à transição de uma ruralidade para um paradigma de modernidade industrial. Em 1940 a vila tinha 6760 habitantes, havia uma ruptura da capacidade de alojamento assim como do Hospital da Misericórdia. Houve também uma dinamização da acção social, cultural e desportiva com a criação, por exemplo, do Cine-clube Riomaiorense, e do Clube de Futebol "Os Mineiros" que mais tarde daria origem ao União Desportiva de Rio Maior. Foi também criado um centro de assistência infantil e uma escola de formação para adultos.

Jorge Manuel Mangorrinha esteve na sessão para falar sobre "questões de salvaguarda e valorização do património". A preservação do património é hoje um factor cada vez menos secundário para as autarquias. Referiu também que alguns países têm património classificado Mundial, inclusivamente Património Mineiro e falou da importância de divulgar nas escolas o património material e imaterial municipal e local. Mangorrinha referiu também que "ninguém ama a sua terra pela sua economia, ama-a pela sua cultura". Na verdade, a cultura é uma alavanca do progresso e origina conhecimento, emprego e qualidade económica.

João Afonso Calado da Maia mostrou-se feliz por se estar a recordar um passado que transformou o concelho de Rio Maior, então vila, na cidade que é hoje.

José Manuel Cordeiro falou sobre a temática dos dois R's: Reabilitar e Reutilizar. Comentou que em Portugal prefere-se derrubar, destruir e construir de novo do que requalificar. A Fábrica de Briquetes do Espadanal pode ser reabilitada sem grande esforço, "basta um pouco de imaginação". Um edifício reconstruído é menos dispendioso e torna-se num ponto de atracção e pode ser reutilizado, respeitando os esquemas originais "para se poder imaginar as funções de actividade do passado", e referiu até que "promover a salvaguarda da preservação da Fábrica de Briquetes é irreversível. A médio prazo poderemos voltar a assistir à inauguração da fábrica recuperada".

Terminadas as apresentações foi o período de debate. Luis Faria Ribeiro, filho de mineiro, disponibilizou-se para contar histórias, uma vez que sabe muito sobre a mina. Pelo cntrário, Maria Luísa Rodrigues, presidente da Associação Portuguesa de Geoturismo, não sabe nada sobre a mina mas apesar disso também se disponibilizou para apoiar no que fosse preciso.

O processo em estudo pelo arquitecto Nuno Rocha tem como objectivo a recuperação do Património Mineiro. Foram apresentadas propostas à Câmara Municipal de Rio Maior, sendo objectivo que haja um vector científico - centro de estudos e investigação científica e Ciência Viva.

Na sessão de encerramento esteve presente Carlos Nazaré Almeida, presidente da Câmara Municipal de Rio Maior, num momento em que foi apresentado o volume 3 da revista "Arqueologia Nacional", da APPI, que dedica a capa, com uma magnífica fotografia da Fábrica de Briquetes, ao Património Mineiro Riomaiorense.
Carlos Nazaré Almeida referiu que este património é importante para a região e o País e que tem possibilidade de ser requalificado. Gorada a hipótese de o futuro Aeroporto Internacional de Lisboa ficar em Ota, o Governo antecipa alguns apoios e a possibilidade de a Mina ficar como Arquivo Municipal foi uma aposta bem acolhida pelo Governo. Há alguns projectos a concluir, pelo que o presidente pediu "compreensão", mas existe viabilidade para recuperar aquele espaço.

O presidente da câmara, que já de manhã, tinha estado na Biblioteca Dr. Laureano Santos, para se inteirar se estava tudo pronto para a Jornada que ali se iria desenrolar, e que contava participar apenas mais para o fim da tarde dados alguns compromissos que tinha, acabou por ficar para uma reunião privada entre a APPI, a GEOMIN e o Centro de Estudos Riomaiorenses durante a qual, tendo sido convidado a intervir, declarou o interesse do seu executivo na requalificação da Mina do Espadanal, manifestando "a disponibilidade da Câmara Municipal de Rio Maior para encontrar soluções de salvaguarda de um património que, reconhecemos, tem interesse".
Mas "não nos interessa preservar aquele património só por preservar: interessa-nos, sim, preservá-lo numa óptica da sua rendibilização e valorização, e de desempenho de funções que possam contribuir para a sua sustentabildade, quer pela própria recuperação do edifício em questão quer pela potenciação do desenvolvimento de outros âmbitos naquele espaço", sublinhou o autarca.
Apesar de não perder de vista os constrangimentos financeiros com que o município se debate, Carlos Nazaré Almeida garantiu que "a câmara está empenhadíssima e começa a vislumbrar uma réstea de esperança e de expectativa de encontrar soluções para a preservação do património mineiro, que passam pelos fundos comunitários - estamos a prosseguir esse objectivo -, e poderão passar por parcerias público-privadas, o que é uma perspectiva complementar que pode viabilizar o nosso objectivo".
O presidente da câmara felicitou o Centro de Estudos pela iniciativa da Jornada e saudou e agradeceu a presença nas mesmas das entidades de relevo cultural na área do património mineiro.

Ainda de manhã foi efectuada uma visita aos edifícios da mina.
A exposição, que inclui a passagem de um mini filme que documenta parte de uma procissão em honra de Santa Bárbara, padroeira dos mineiros, que saía do Espadanal em direcção à boca da mina, e ainda alguns objectos da época e até o que resta de uma máquina trituradora, pode ser visitada até este fim-de-semana.


Zélia Vitorino, C.M. in Região de Rio Maior, nº 1019, de 18 de Abril de 2008.

1 comentário:

Anónimo disse...

Foi com uma imensa tristeza que soube de toda esta polémica em torno do complexo mineiro. Os meus avós trabalharam ambos na mina e esta representou uma mais valia para a terra durante muitos anos. Tenho pena sempre que vou a Rio Maior e vejo que o património da cidade está a desaparecer.