Jornada comemorativa dos 40 anos do encerramento das Minas do Espadanal.
O Centro de Estudos Riomaiorenses levou a efeito no passado sábado, 11 de Julho, uma jornada comemorativa da passagem de 40 anos sobre o encerramento das Minas do Espadanal a qual começou na sua sede, sita no nº21 da Rua D. Afonso Henriques, com uma singela sessão que serviu para situar a efeméride e a constituição da Comissão de Antigos Funcionários da Empresa Industrial Carbonífera e Electrotécnica (EICEL), matéria de que se encarregou Nuno Rocha, vice-presidente do CER. No mesmo local está patente uma interessante exposição de fotografias da época de exploração das minas de lignite de Rio Maior - "algumas delas inéditas", sendo a mostra "um contributo para o enriquecimento da memória colectiva da população do concelho de Rio Maior", referiu o presidente do CER, João de Castro. A exposição, denominada "Memórias da Comunidade Mineira Riomaiorense" inclui alguns artefactos utilizados pelos mineiros.
Convidado de honra, Silvino Sequeira garantiria que enquanto ele for presidente da Câmara Municipal de Rio Maior o que resta das instalações da Mina do Espadanal "é intocável", tendo recordado que ainda há poucos anos a autarquia, como representante dos riomaiorenses havia assegurado a passagem das mesmas para a sua posse e que posteriormente prestou homenagem aos mineiros com uma estátua evocativa, na Avenida Mário Soares. Silvino acredita que lá para os anos vinte Rio maior voltará a ter caminho-de-ferro, agora uma moderna linha a ligar Caldas da Rainha a Rio Maior e Santarém.
De seguida dirigiram-se todos, a maioria a pé, para as antigas instalações das minas, para uma fotografia de grupo, incluindo o presidente da Câmara, que acabara de se inscrever como sócio do Centro de Estudos Riomaiorenses.
Depois, no restaurante "O Retiro do Cândido" decorreu um animado convívio entre os corpos sociais do CER e os antigos funcionários da EICEL como seus convidados. Albino Vivo, de Arrouquelas, que se associou graciosamente ao evento tocou acordeão e António Feliciano e Rui Andrade, da direcção do CER cantaram, acompanhados por muitos outros, "O Fado do Mineiro", melodia interpretada em 1945 por Alves Coelho, Filho, no âmbito da opereta "E o sonho foi realidade...", levada a cena em Rio Maior, trecho alusivo a essa importante comunidade que aqui se radicou.
De registar que nesse local existiu a taberna do Luís Romão, um dos muitos sítios onde os mineiros se juntavam pra confraternizar após regresso do trabalho. Este excelente convívio terminou com uma intervenção do presidente da Assembleia Geral do CER, Professor Doutor Laureano Santos.
Entretanto, tivemos ocasião de conversar com alguns antigos mineiros que nos manifestaram a sua comovida satisfação por verem as memórias da mina serem avivadas, para que toda a comunidade as interiorize como parte integrante da sua história: "É um dia inesquecível! A mina foi uma grande obra que se fundou em Rio Maior, trabalhei lá vários anos e tenho saudades desse tempo que acabou, por isso estou deveras emocionado", disse-nos Albino Aguiar.
Para o ex-mineiro António Severino Pereira "é bom reconhecerem que vale a pena preservar a memória das Minas do Espadanal. Gostei imenso desta cerimónia e da exposição", afirmou; e apontando para uma das fotos: "Eu trabalhei com aquela máquina!"
João Severino Inácio, mineiro logo aos 13 anos de idade, em 1946, também se declarou muito satisfeito "porque isto faz parte da história de Rio Maior e não há dúvida nenhuma que é muito interessante a iniciativa que estes senhores tiveram".
Júlio Martins Filipe foi outro dos antigos mineiros presentes. Começou a trabalhar a 3 de Junho de 1957, aos 18 anos: "Umas vezes andava cá fora, outra ía lá para baixo, conforme onde o trabalho apertasse mais", conta. "Aquilo eram trabalhos duros, tanto cá fora como lá dentro: empurrar as vagonetas, carregar o comboio, carregar aquele pó à pá... andávamos ali metidos numa nuvem!". Quanto à intocabilidade do património mineiro, embargou-se a voz ao Sr. Júlio e já não conseguiu dizer mais nada.
João Severino Inácio, mineiro logo aos 13 anos de idade, em 1946, também se declarou muito satisfeito "porque isto faz parte da história de Rio Maior e não há dúvida nenhuma que é muito interessante a iniciativa que estes senhores tiveram".
Júlio Martins Filipe foi outro dos antigos mineiros presentes. Começou a trabalhar a 3 de Junho de 1957, aos 18 anos: "Umas vezes andava cá fora, outra ía lá para baixo, conforme onde o trabalho apertasse mais", conta. "Aquilo eram trabalhos duros, tanto cá fora como lá dentro: empurrar as vagonetas, carregar o comboio, carregar aquele pó à pá... andávamos ali metidos numa nuvem!". Quanto à intocabilidade do património mineiro, embargou-se a voz ao Sr. Júlio e já não conseguiu dizer mais nada.
MEMÓRIAS DA COMUNIDADE MINEIRA RIOMAIORENSE - Nuno Rocha situa constituição da Comissão de Antigos Funcionários da EICEL
Homenageamos hoje os homens e a sua capacidade de, pelo trabalho, reinventarem o futuro da comunidade na qual se inserem.
Durante 53 anos, entre 1916 e 1969 a história do período mineiro e da introdução na vila de Rio Maior dos paradigmas da sociedade industrial foi erguida por homens com a tenacidade de António Custódio dos Santos (descobridos legal da Mina do Espadanal), a capacidade de decisão de Ferreira Dias (Subsecretário de estado da Indústria que determina a construção da via-férrea Rio Maior - Vale de Santarém) ou a competência e valor humano do Engº Luís Falcão Mena (director-técnico da EICEL), mas elevou-se também, e sobretudo, do esforço anónimo de centenas de operários, na sua maioria trabalhando e vivendo em condições de extrema dificuldade.
Com efeito, em plena Segunda Guerra Mundial, o Couto Mineiro do Espadanal foi chamado pelo Estado Novo a cumprir uma função de reserva estratégica de combustível para a alimentação da indústria nacional e principalmente com o objectivo de assegurar a produção ininterrupta de electricidade na região de Lisboa.
O investimento do governo na lavra intensiva das lignites de Rio Maior resultou entre 1942 e 1945 num afluxo de cerca de 1.500 pessoas, entre operários admitidos à exploração mineira e respectivas famílias, a uma freguesia de Rio Maior que em 1940 contava com uma população de apenas 6.760 habitantes, provocando no imediato a ruptura da capacidade local de alojamento e assistência social.
Esta população emergente, que se fixa no pós-guerra com a construção da Fábrica de Briquetes, imprimiu o ritmo de um novo tempo à vila de Rio Maior.
A empresa concessionária e as entidades locais desenvolverão ao longo das décadas de 40, 50 e 60 um conjunto de medidas de integração e melhoramento das condições de vida da comunidade mineira, procurando resolver o problema da habitação com a edificação de novas áreas residenciais e dinamizando a actividade social, cultural e desportiva com a criação de estruturas associativas que terão um papel central na promoção de um período de intensa participação cívica dos riomaiorenses.
No plano cultural, o Grupo Cénico Zé P'reira, fundado em 1941, não será indiferente a esta nova realidade social, levando ao palco peças de inspiração mineira, das quais se destaca a opereta" E o sonho foi realidade..." apresentada em 1945 como uma apologia da vida dos mineiros.
Também a música terá o seu espaço no seio da comunidade mineira com o Grupo Coral e Orquestra folclórica do Círculo Cultural de Rio Maior, fundado em 1956, e que tem como primeiro regente o Maestro António Gavino, funcionário da EICEL.
No capítulo desportivo reside talvez uma das maiores glórias da vida associativa mineira, com a fundação em 1945 do Clube de Futebol "Os Mineiros" - colectividade determinante na promoção da prática desportiva local, que representa o concelho nos campeonatos regionais e nacionais, desenvolvendo em simultâneo uma intensa actividade cultural na sua sede. Na década de 70, após o encerramento da extracção mineira, o clube mudará de designação, dando origem ao actual União Desportiva de Rio Maior.
No plano social, a EICEL promove, através da acção meritória do seu director-técnico Engº Luís de Abreu Falcão Mena, a criação de um Centro de Assistência Infantil, em 1947, de uma Cooperativa de Pessoal da empresa, em 1948, (com a sua cantina aberta na Rua 5 de Outubro), de uma Escola para formação de operários, em 1956, (em adesão à Campanha nacional de Educação de adultos), e desenvolve a assistência na saúde em posto médico próprio, renovdo em 1962.
Este intenso movimento social é interrompido a 6 de Julho de 1969, com a suspensão da actividade das minas de lignite, tendo como objectivo a reconversão da lavra para alimentação de central termoeléctrica, que augurava um período de duas décadas de crescimento económico da vila de Rio Maior, cuja construção não se concretizará.
Um importante espólio documental e todo o equipamento móvel da exploração mineira, que presentemente procuramos recuperar, acabariam por se dispersar nas quatro décadas seguintes.
A recuperação da memória do período mineiro tem no trabalho académico de Ivan Costa, publicado no jornal Região de Rio Maior no final dos anos 90, um importante contributo.
O Processo de Estudo e Salvaguarda do Património Mineiro, com início em 2005, estabelece-se como tentativa de inverter o curso de décadas de alienação da memória e destruição de património, constituindo o ponto de partida de uma proposta cultural abrangente, materializada posteriormente na constituição do Centro de Estudos Riomaiorenses.
Sintetizando diferentes iniciativas desenvolvidas ao longo de 3 anos foi possível obter, em 2008, com a realizaão da I jornada do Património Mineiro, em co-organização com a Associação portuguesa para o Património Industrial, o reconhecimento geral da importância do legado da actividade mineira no nosso concelho e das suas potencialidades na qualificação da vivência urbana da cidade de Rio Maior.
Em face do risco de perda das derradeiras evidências deste período histórico decisivo apresentámos à Câmara municipal, em Outubro de 2008, uma proposta de classificação do Complexo Mineiro do Espadanal enquanto Património de Interesse Municipal, que se encontra em apreciação.
Não pretendemos, contudo, enunciar apenas a existência de um problema, de cuja resolução se fará, ou não, uma aposta decisiva na Identidade Local. É nosso objectivo contribuir para a definição de soluções, tendo presente que um projecto desta envergadura se cumprirá, necessariamente, em pequenos passos, seguros.
Assim, e no âmbito de extensa recolha documental em curso, disponibilizamos a partir de hoje, ao concelho de Rio Maior, e em permanência, o núcleo inicial de um futuro pólo museológico dedicado ao património mineiro. erguido com os parcos recursos de que dispomos, é o resultado da dedicação dos riomaiorenses à valorização de uma herança que nos é comum - a nossa memória colectiva.
Termino, relembrando a união dos riomaiorenses, em 1922, em defesa do projecto de exploração das lignites de Rio maior pela EICEL, em abaixo-assinado subscrito pela Câmara Municipal, todas as Juntas de Freguesia e mais de 200 cidadãos, enviado ao Ministério do Trabalho.
Quase nove décadas depois cabe aos riomaiorenses de hoje a produção de um novo compromisso colectivo que permita fazer perdurar o legado desses pioneiros sabendo, como eles, encontrar nas Minas do Espadanal um meio de valorização da nossa comunidade.
(Fotografias gentilmente cedidas pelo Jornal Região de Rio Maior).
In Região de Rio Maior nº1084, de 17 de Julho de 2009.
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