terça-feira, dezembro 07, 2010

MINA DESMINADA !?

A notícia, no “Região de Rio Maior” (05 de Novembro), “Recuperação da fábrica de briquetes da Mina do Espadanal assegurada sem custos para o município. CER aguarda autorização da Câmara Municipal” , recoloca ao executivo camarário (e à oposição), à assembleia municipal e à junta de freguesia de Rio Maior, não um problema, mas sim uma feliz herança que requer solução urgente, bastante atenta e decisiva: que futuro para todo o espaço edificado e envolvente da Mina do Espadanal.

Sendo possível, proximamente, a execução da primeira fase dum plano de recuperação parcial sem encargos para a autarquia, fica desse modo sinalizado mais um momento histórico (e irreversível) do marcante, extraordinário e modelar complexo mineiro.

É de facto uma feliz herança para a autarquia e para os riomaiorenses, possuir esse património não só local, mas também da História do país. Escuso-me, porque desnecessário, relevar aqui a importância da extracção de minério, durante décadas, quase imediatamente post II Grande Guerra, e a sua contribuição para solucionar um problema nacional, o desenvolvimento e introdução de novos relacionamentos que provocou na então vila, o acolhimento, integração de muitas centenas de famílias e consequente “repovoamento” com mais nativos e diferentes culturas, a projecção e o conhecimento do concelho, a reactivação do comércio local, e tudo o que moveu, indiciou, proporcionou. Muito raramente vejo, ao longe, “A Mina”. Mas sempre que tal acontece, tenho a sensação (quem a não terá?) duma re-identidade e simultaneamente dum apelo vindo do imponente edifício e da icónica chaminé: “aproveitem-me !” Tem de ser aproveitado !, todo aquele complexo e áreas envolventes !

Não tendo o município monumentos históricos identitários a nível nacional (as Marinhas de Sal são uma raridade), seria incompreensível, inadmissível e indesculpável se a Câmara não recuperasse tão peculiar território (incluindo o subterrâneo) e não projectasse o concelho a partir dum novo, necessário e urgente zénite, no caso (também, finalmente ?) cultural, museológico e turístico. Sabendo o que instalar, como promover acervos e para quem direccionar actividades, acredito que a autarquia o fará, em tempo certo, apesar da crise e da enorme, cerceadora dívida por resolver: Existem vontades inabaláveis; há um projecto detalhado, decisivo (concretizado pelo impagável arquitecto Nuno Alexandre Rocha) e um movimento associativo que, não só alertou para a situação, mas também promoveu acções de sensibilização e de recolha de utensílios e de documentos. Os apoios surgirão se correctamente solicitados às entidades nacionais e europeias competentes. Em suma, porque reutilizáveis para fins culturais, patrimoniais, educacionais e lúdicos, aqueles edifícios e terrenos não devem, não podem, ser demolidos nem vendidos a interesses particulares, como quase aconteceu em 2007.

Compete à Câmara congregar, aproveitar competências dos cidadãos, de instituições, e co-organizar correctamente as coordenadas iniciáticas dum projecto singular e exemplar. Publicamente, que se saiba, poucos riomaiorenses com responsabilidades políticas, sociais e culturais conseguiram (ou quiseram), nos últimos anos, pensar, activar turística e culturalmente “A Mina”. Não há (infelizmente durante décadas ninguém teve discernimento para tal) uma substancial recolha de instrumentos de trabalho, de máquinas, de quantidade interessante de briquetes, etc, etc.

Museologicamente, naqueles espaços enormes serão exibíveis as “peças” possíveis (não são poucas), mas, com imaginação e criatividade lúcidas e direccionadas especificamente ao concelho, também à região e sobretudo ao país, pode, a entidade orientadora e programadora, criar áreas de lazer, um pólo museológico, um centro de estudos e simultaneamente um complexo cultural polivalente dedicado à contemporaneidade.

Simples (de nada valerá, sei-o) opinião minha: não hesitaria em recuperar os edifícios, instalar a História da Mina e da Geologia concelhia e, colocar(!) de vez(!!) a cidade e o concelho (geoestrategicamente excelente) na rota das cada vez mais apetecidas “ofertas” da cultura contemporânea – artes cénicas, sonoras e visuais, exposições, etc. Garantidamente, tudo isso será (muito) viável, com custos mínimos ou suportáveis, se bem programado e protocolado com instituições e autores. Atrairá públicos, quiçá novos residentes (sentindo-se bem com “oferta” cultural...), revitalizará o comércio e a economia – não faltam exemplos, em Portugal, de pequenas e médias localidades exponenciadas e vivificadas pela cultura !, que pode e deve gerar lucro ! Naquela modelar arquitectura industrial post II G.Guerra, podem instalar o que quiserem!

O actual executivo camarário ficará ligado à História da cidade e do concelho, ao provocar uma necessária e motivante descolagem com o quotidiano, aproveitando as infra-estruturas, os espaços, para pensar, estruturar e activar o futuro ! Se objectivar a longo prazo face às necessidades dos estratos sociais, dos graus etários, dos conhecimentos culturais dos cidadãos. Se quiser concluir que vive num irreversível “mundo global” que necessariamente respeita, preserva, estuda, mostra, promove mas não pára no Passado, num período contemporâneo célere, hiper-criativo, ávido por dinâmicas para o Séc.XXI e já liberto de constrangimentos políticos, administrativos ou sociais.

Manoel Barbosa

Lisboa 2010 Novembro

N : Recuso-me escrever pelo vigente acordo ortográfico luso-brasileiro.

In Região de Rio Maior nº1156, de 3 de Dezembro de 2010

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